Mark Ronson explica onda de disco music na pandemia: ‘Dançar ajuda, nem que seja na cozinha'
Música
Publicado em 11/02/2021

Mark Ronson entende de música dançante. O inglês de 45 anos é um dos principais produtores do pop nos últimos anos. Trabalhou com Amy Winehouse, Lady Gaga, Miley Cyrus, Bruno Mars, Dua Lipa...

O diagnóstico do especialista sobre o pop em tempos de pandemia é o seguinte: "As pessoas precisam liberar energia mais do que nunca". Por isso, ele não se importa de lançar singles dançantes para celebrações isoladas e caseiras.

Há dois anos, ele levou a "sofrência" para a pista de dança num álbum solo. Mas o lançamento mais recente é "New love", música do duo Silk City, duo formado por Mark e por outro superprodutor: o americano Diplo. Nesta faixa, o vocal é de Ellie Goulding.

O Silk City faz uma mistura de disco music e house dos anos 90. É o tipo de som que voltou com força às paradas durante a pandemia. Em 2018 o duo chamou Dua Lipa para o single "Electricity", que foi um prenúncio do estilo do fenômeno "Future nostalgia", álbum que ela lançou no ano passado.

Ao lado de Diplo (que também conversou com o G1 sobre o seu amor pelo funk carioca), Mark Ronson falou sobre o Silk City e a onda disco no meio da pandemia. Leia abaixo:

 

G1 - O que um cantor precisa ter para participar de um single do Silk City?

 

Mark Ronson - Se você olhar para os artistas - Dua Lipa, Ellie Goulding, Daniel Merriweather - eles têm vozes profundas. Isso é importante, pelo tipo de música que o Silk City faz. Têm que ser vocais quase R&B. Não podem ser pop.

 

 

Tem um tempo que a EDM se resume a canções pop sobre batidas dançantes. O que a gente faz é levar de volta para harmonias soul. Do jeito que elas eram antes, quase gospel.

 

A Ellie, a Dua, o Daniel são pessoas legais e que, acima de tudo, são nossas amigas.

 

Diplo - Acho que só tem que ser natural. Eu e Mark temos uma química ótima no estúdio. E quando achamos uma voz, são só amigos. Não é que tem o cara da gravadora trazendo o artista da vez. Não é tipo a gente com roupas de adolescentes falando "heeey o que tá rolando" (risos).

G1 - Vocês pensam primeiro no vocalista ou fazem a canção e depois decidem

 

Mark Ronson - A música primeiro. Em "Electricity", o Diplo fez a bateria. Eu tinha acabado de me mudar para um estúdio em Los Angeles e tinha um piano velho que a gente ia jogar fora. Tipo piano de uns 80 dólares. Eu toquei e soou tão bom. Tinha um som particular, parecia funcionar com dance music.

 

Os outros pianos soavam muito grandiosos, certinhos, bonitos demais para colocar numa batida. Aí quis usar o que aprendi com os Dap-Kings (banda que tocou com Sharon Jones), que trabalhavam em gravadores de fita e equipamentos analógicos. A coisa é achar o que te anima no momento de criação.

 

G1 - Mark, você já definiu o Silk City como "música da noite". Faz sentido lançar um single nesse período em que as casas noturnas estão fechadas?

 

 

Mesmo que clubes, festivais, todas esses lugares estejam parados, por várias razões as pessoas ainda precisam dançar, precisam liberar energia mais do que nunca. O Tik Tok mostrou que é óbvio que as pessoas estão dançando nas suas salas de casa, nos seus quartos, coreografando as músicas.

 

Músicas tipo "Dancing on my own", da Robyn, estão tendo essa incrível audiência de pessoas nas suas camas ou sei lá onde. O Silk City, claro, ama a ideia de poder tocar em grandes festivais. E vamos fazer isso quando der. Mas isso não muda o fato de que as pessoas precisam uma alegria, e dançar ajuda, seja na cozinha ou em qualquer lugar.

G1 - A Dua Lipa lançou "Electricity" com vocês em 2018, e eu ouço esse single como uma ponte entre o primeiro disco dela, de 2017, e o "Future Nostalgia", de 2020. Ela até disse que o clipe dessa música foi um ponto de virada para ela. Vocês concordam?

Diplo - É, ela destravou um novo nível de Dua nesse clipe. Está tão sexy, e conseguiu fazer tudo ao estilo Dua Lipa. Muita gente dança, faz coreografia, mas ela faz do jeito dela. Não é como um movimento ensaiado, ensinado por um instrutor. A pior parte é que eu e Mark não estávamos lá. Mas nessa música a gente tentou fazer uma canção dance clássica e acho que conseguimos.

Quando eu e Mark entregamos uma faixa de dance music para um cantor, a gente fica esperando eles tocarem ao vivo. Porque pode não ser o maior hit deles, mas quando eles levam para um festival, um show grande, eles percebem uma coisa: é fácil fazer singles pop. O público curte, acende as luzinhas.

 

Mas quando você vê eles dançarem de verdade, 20 mil pessoas dançando na sua frente, a energia é insana, isso te vicia. Aí eles falam: agora só quero lançar singles de dance music. Eu acho que foi isso que aconteceu com a Dua. Ela provavelmente viu isso. Ela não tinha músicas desse tipo.

 

G1 - O disco da Dua foi o carro-chefe de um revival da disco music em pleno 2020. Como vocês explicam esse revival, além da tal energia reprimida na quarentena que você citou?

Mark - Eu não sei, o que é doido é que agora que sou velho o suficiente, lançando discos desde os meus vinte e poucos, eu vi a disco ir e voltar várias vezes. Quando comecei era o Puff Daddy sampleando todos os singles. Teve Daft Punk, vi tantos ciclos. Mas disco para mim é uma dance music para cima, generosa para a alma, quando você ouve te levanta. Quando é bem feito, nunca fica velho.

 

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