A mulher de 48 anos, presa por suspeita de maus-tratos a animais, recebeu liberdade provisória neste sábado (24), após passar por audiência de custódia. O advogado dela disse que a defesa aguarda andamento do processo para responder acusação e provar inocência da cuidadora. Ela foi detida na sexta-feira (23), depois que pessoas ligadas ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV-BA) e da Brigada K9, instituição voluntários, acusaram ela de manter um abrigo clandestino, no bairro São Cristóvão, em Salvador.
O advogado Jorge Ribeiro, em entrevista ao G1, reforçou que a inocência da mulher será provada na Justiça. "A minha cliente é uma cuidadora de animais, gosta de animais. Começou cuidando de 5 e, atualmente, são cerca de 50 cachorros. O trabalho que ela faz é voluntário e reconhecido pela própria comunidade, que leva animais até ela", ressaltou. Ele afirmou ainda que a defesa vai reforçar o trabalho que a cuidadora prestava à sociedade.
"Ela fazia um trabalho em cima da omissão do Estado, que deveria cuidar de animais em situação de rua. Se as condições do abrigo não eram as melhores é porque ela é realmente não tinha mais recursos", explicou. Na sexta-feira, o advogado dela havia dito que não sabia de onde tinha surgido a denúncia de maus-tratos, mas que elas não têm fundamentos e não foram provadas.
Acusações e prisão
As acusações de maus-tratos foram feitas por Emerson França, que se intitula comandante da Brigada K9. Ele diz que as "investigações" do caso começaram há cerca de 3 meses, após denúncias. No entanto, a brigada não tem poder de polícia para instaurar investigações. "Primeiro, a gente fez a investigação para não fazer nada aleatoriamente, sem ter provas, devido essa nova lei, que a gente ampara os animais e os protetores. Então, a gente foi investigando. [Foram encontrados no local] fezes pelo chão, animais sem água, sem comida. Depois, nossa equipe começou a achar medicamentos que só quem tem acesso são veterinários", disse Emerson. Pessoas da vizinhança e familiares da mulher, no entanto, desmentiram essas informações. Uma amiga da família da suspeita, que preferiu não se identificar, nega as irregularidades apontadas tanto por Emerson.
Ela disse que os animais doentes que estavam no local tinham chegado recentemente à casa, que funcionava como um abrigo para animais abandonados. Segundo ela, tantos cães, quanto gatos estavam em processo de tratamento e ainda não tinham se recuperado. "Ela é protetora e tem animais em casa, cuidava dos que estavam em situação de maus-tratos. Os animais que eles alegam sendo maltratados foram animais que ela recolheu já maltratados e que estavam sendo cuidados aqui. Ela recebia apoio de um médico veterinário que dava suporte nos atendimentos, mas ela não fazia procedimentos", disse a mulher.
"Ela é uma pessoa que não tem nada, não tem nem cama para dormir, gasta um saco de ração de por dia para alimentar os animais. Tudo que ela faz é para esses animais. O pessoal da comunidade está se mobilizando para ajudá-la", disse a amiga.
A lei a qual o Emerson França se refere foi sancionada em setembro deste ano e estabelece pena de dois a cinco anos de reclusão para quem praticar atos de abuso, maus-tratos ou violência contra cães e gatos. Um familiar da mulher também disse que recebeu a operação com surpresa, já que nenhum vizinho jamais reclamou da situação com a dona do imóvel.
"Ela não recebia reclamações de vizinhos por maus-tratos, fedor de animais, nada, até porque isso não existe. São muitos animais e nós tentamos manter a limpeza, mas jamais maltratar. As pessoas vêm aqui na porta deixar os animais para ela cuidar, cansam de abandonar aqui. É um lugar simples, mas ela é extremamente apegada a esses animais. "A gente acredita que uma pessoa que foi amiga dela fez a denúncia porque ela estava se recusando a receber novos animais, porque já estava difícil para ela manter os que já estavam lá", disse o familiar.*G1BAHIA — Foto: Brigada K9 / Divulgação