Moradores do Nordeste de Amaralina colorem escada em homenagem a jovem que vai defender TCC sobre gênero e diversidade.
Bahia
Publicado em 23/10/2020

Moradores do bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador, pintaram a escada da rua em que moram, de várias cores, em homenagem a um dos vizinhos, que vai defender, no dia 3 de novembro, o TCC intitulado "Conflitos e Ação Política nos Movimentos LGBTQ de Montréal/Québec e Salvador/Bahia".

A ação, que aconteceu no dia 11 de outubro, e contou com cerca de 30 pessoas, entre 6h e 16h, ia ser feita inicialmente apenas pela mãe de Igor Leonardo, de 24 anos, o homenageado. Dona Sidnea Ferreira Santana comprou as tintas e planejou a homenagem ao filho. A ideia inicial era, sozinha, pintar todos os 50 degraus da Avenida Edna. Após comentar com uma vizinha, a ideia foi comprada por quase todos os moradores da comunidade. "Eu queria dar vida para essa rua, colorir essa rua e também lembrando a defesa de Igor, que vai ser dia 3, aí eu juntei o útil ao agradável. Comentei com meus vizinhos, reuni o pessoal, fiz a iniciativa de comprar as tinhas, mas não dava para pintar todos os degraus. Eles compraram a ideia, cada um ajudou com o que podia, fizemos uma vaquinha e deixamos tudo lindo", contou dona Sidneia. Igor Leonardo estudou em uma escola da rede particular até a 4ª série e concluiu o ensino fundamental II e médio na rede pública. O estudante cursou dois semestres de Nutrição, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), mas trancou o curso em busca de mais satisfação pessoal. Foi assim que ele começou a cursar bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2015. A previsão era de que se formasse em 2019, mas adiou em um ano para fazer uma pesquisa de seis meses em Montreal, no Canadá. "Minha vontade era de fazer Letras com francês. Eu tinha aula de francês no ensino médio e gostava da língua, tanto que continuei estudando", disse o jovem. Ele contou que a escolha por nutrição se deu por achar que seria uma forma mais fácil de atingir estabilidade financeira. "Eu cancelei a minha matrícula e fiz o Enem novamente. Depois de algumas pesquisas, eu descobri o curso de gênero, não só gostei, me apaixonei. Achei um curso muito ligado com as minhas identidades, as minhas identificações".Para o jovem, antes de uma homenagem a ele, a união dos vizinhos na pintura das escadas e muros representou um sentimento de coletividade e de tentativa de um olhar diferente para a comunidade, repercutida muitas vezes como um local de violência. “Eu acho que, antes de tudo, representa essa ideia de coletividade. O mais  importante, antes de ser qualquer tipo de homenagem, acho que é uma demonstração de potência periférica, esse lado de coletividade, esse lado de implicação social, de alegria, de festa, para além de toda essa cultura de marginalidade, violência, guerra, conceitos que têm em todos os lugares, mas resumir um bairro somente a isso é complicado”, disse o estudante. “É trazer uma outra leitura, um outro enquadramento para pensar periferia, pensar bairrismo, comunidade popular”. Segundo Igor Leonardo, o momento da pintura ficará marcado para sempre no coração dele, não só pela homenagem, mas pela comemoração em união com todos. “Foi uma algazarra, uma festa coletiva. Com o churrasco e a cerveja, foi até umas 21h. Rolou um churrasquinho, feijão, música”, contou. Dona Sidneia, agora, se prepara para organizar a apresentação do filho. Muito orgulhosa, ela planeja colocar um telão para que todos os vizinhos possam assistir o momento marcante para a família dela. "Por causa da pandemia, a defesa dele vai ser online, ele vai ficar sentado na escada e a gente vai colocar umas cadeiras para a vizinhança toda e alguns convidados, com todos os cuidados devidos, já falei para o pessoal usar máscaras, álcool em gel, tudo certinho", disse.*G1BAHIA — Foto: Arquivo Pessoal

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