Três anos após naufrágio que matou 19 pessoas em Mar Grande, sobreviventes e familiares de vítimas aguardam indenização.
Bahia
Publicado em 24/08/2020

O naufrágio da lancha Cavalo Marinho I na Baía de Todos-os-Santos que matou 19 pessoas completa três anos nesta segunda-feira (24). Desde então, sobreviventes da tragédia e familiares esperam decisão da Justiça sobre as indenizações. Em 2017, quando o acidente aconteceu, a Defensoria Pública da Bahia chegou a ajuizar 46 ações contra a CL Transportes Marítimos: 41 delas na comarca de Itaparica e as outras cinco em Salvador. No entanto, neste mês, apenas 35 processos seguem sob a responsabilidade do órgão, porque cinco pessoas constituíram advogados particulares em 2019 e outra neste ano. Os 35 processos contemplam 37 pessoas, porque três pessoas de uma mesma família entraram com a ação juntas. O G1 teve acesso a documentos que detalham o andamento dos processos movidos pela Defensoria Pública. A maioria deles consta como concluso desde o ano passado, ou seja, os autos finalizados já foram enviados à Justiça e falta apenas que o juiz determine a sentença de indenização. Esse é o caso da sobrevivente Joisy Elem Oliveira da Silva, que consta como concluído em junho de 2019. “Só tivemos a audiência de conciliação, que não conciliou nada porque a CL [Transportes] não foi. O processo chegou a ficar parado em fase de réplica, e aguardando o julgamento da Marinha. Depois dessa audiência, o processo andou um pouco e travou por causa do julgamento", conta ela, que na época do naufrágio era estudante de direito e hoje é advogada. “Eu fico indignada, mas também sei que vai acontecer. Estou confiante. A gente sabe que as coisas não são fáceis, mas vão acontecer” – Joisy Oliveira. Três dos processos foram suspensos até este mês, e aguardavam o resultado do julgamento pelo Tribunal Marítimo, que aconteceu na última quinta-feira (20). Foram condenados Lívio Garcia, que é dono da CL Transportes, a empresa e o engenheiro da embarcação, Henrique José Caribé Ribeiro. A CL Transportes segue em operação nos terminais Náutico, em Salvador, e de Vera Cruz, em Mar Grande. Com o julgamento da quinta-feira (20), a empresa foi condenada pela Marinha a ter o registro de armador cancelado. O dono da empresa, Lívio Galvão, foi condenado à multa máxima no valor de R$ 10.860, a ser corrigido pelo setor de execução do Tribunal Marítimo. Já o engenheiro Henrique José Caribé Ribeiro foi penalizado com a interdição do exercício da função de responsável técnico em todas as Capitanias dos Portos do Brasil pelo período de cinco anos. Desde o acidente, em 2017, o G1 tenta contato com Lívio Garcia Galvão Júnior, a quem pertencia a Cavalo Marinho I, mas nunca conseguiu falar com ele. O Tribunal Marítimo informou que a aplicação das penalidades não será retroativa e que as penas só podem ser executadas após o encerramento definitivo, na esfera administrativa. O órgão destacou que o processo do Tribunal Marítimo ainda não transitou em julgado. O julgamento cabe recurso. Até 2019, quando os processos estavam nas fases das audiência de conciliação, a CL Transporte não participava das sessões. Para a Defensoria Pública, a empresa chegou a alegar que os valores indenizatórios são altos. Defensoria Pública entrou, por três vezes, com pedido de medida cautelar para indisponibilizar os bens da CL Transportes, além de solicitação para bloquear 20% das verbas da empresa para assegurar os pagamentos indenizatórios. No entanto, a Justiça não autorizou a indisponibilidade dos bens e concedeu bloqueio de apenas 5% das verbas, mensalmente, para o pagamento das indenizações. A CL Transportes nunca depositou os valores determinados judicialmente. O Tribunal de Justiça informou que foi aberto prazo para o advogado dos réus apresentem as alegações finais.

Os processos de indenização são por danos morais e materiais, já que a maioria dos sobreviventes também perdeu pertences na tragédia. A maioria dos pedidos de indenizações são em média de R$ 100 mil. O maior valor pedido é de cerca de R$ 1,5 milhão, da família em que as três pessoas entraram juntas com a ação, porque além dos danos morais e materiais, os Moreira da Silva também perderam uma pessoa no naufrágio, a Lindinalva Moreira da Silva, de 50 anos. O G1 fez um memorial com todas as vítimas do acidente.*G1BAHIA— Foto: Afonso Santana/Arquivo pessoal

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