'Correio da Casa': Garota de nove anos inicia projeto de cartinhas decoradas para arrecadar dinheiro e doar para instituições.
Bahia
Publicado em 03/07/2020

Dançar está entre as atividades favoritas da pequena Marina Mascarenhas, de nove anos. Mas foi com lápis e papel que a menina, que mora em Salvador e está no 4º ano do Ensino Fundamental, iniciou um projeto de solidariedade para aproximar pessoas afastadas pela pandemia de coronavírus. No mês de junho, ela começou o “Correio da Casa”, iniciativa em que recebe encomendas de cartinhas, que são decoradas e enviadas digitalmente. Por cada cartinha, Marina cobra R$ 5. Do valor total, 80% são convertidos em doações para entidades que sofreram com os efeitos da pandemia. Os 20% restantes são utilizados para comprar o material necessário para as cartas.

A ideia do "Correio da Casa" surgiu em março, ainda no início da pandemia. Porém, a iniciativa só entrou em ação no mês passado. Desde então, a menina já acumula 53 cartinhas enviadas. “Tive a ideia quando eu estava em uma aula online. A pró toda hora avisava que teria reunião online. Se eu deixasse para o fim da aula para contar para minha mãe, eu com certeza ia esquecer. Como as aulas começaram em fevereiro, a agenda de janeiro ninguém usou. Aí eu arrancava as páginas da agenda de janeiro e escrevia os bilhetes para alguém que estava na sala, para mandar para minha mãe”, disse Marina, que contou ter se inspirado na série infantil Detetives do Prédio Azul, onde os personagens já se utilizaram das cartas como meio de comunicação. “Estava juntando dinheiro para doar, tive a ideia de tentar conseguir dinheiro para doar. Como gostava de cartas e de ajudar, pensei em abrir uma empresa de cartas. Falei com minha tia, que minha mãe estava no telefone. Ela gostou da ideia, e eu abri a empresa”, completou. De início, Marina planejava ajudar o Médico Sem Fronteiras. Porém, após receber uma encomenda de cartas da tia, decidiu mudar os planos e doar o valor arrecadado para a Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência. A mudança ocorreu quando Marina soube que a Rede havia iniciado uma vaquinha online para confeccionar máscaras para a população indígena da Bahia. Com as 53 cartinhas escritas em junho, a menina recebeu R$ 265 e doou R$ 212 reais para a iniciativa da Rede Kunhã Asé, que, apesar de já contar com 125 colabores, ainda está longe da meta de obter R$ 15 mil. Para tocar o “Correio da Casa”, Marina recrutou esforços na própria família. O irmão da menina, Pedro Mascarenhas, de 13 anos, ajuda a escrever as cartinhas. A mãe da garota, Quercia Mascarenhas, ajuda a organizar o projeto, enquanto a tia, Caren Queiroz, cuida da parte financeira. “Dá um sentimento de orgulho muito grande por ela ter pensado nisso. A ideia toda foi dela, só fiz ajudar nas contas de porcentagem. Já conversei com ela sobre como faz os cálculos, o manejo do dinheiro. O meu sentimento em relação a isso é de admiração, orgulho e incentivo. Quando as crianças vêm com ideias assim, a gente acha que é uma coisa pequena. Mas só o fato de incentivar e apoiar me deixa muito feliz”, disse Caren. “Marina sempre foi uma garotinha muito altruísta. Sempre foi muito parceira. Quando ainda não sabia escrever, desenhava imagens super carinhosas. Quando aprendeu a escrever, passou a mandar bilhetinhos. Quando ela teve a ideia, fiquei muito feliz. Foi de uma sensibilidade muito grande perceber que muitos estão sofrendo, mas tem gente sofrendo mais. É motivo de orgulho muito grande saber que temos esperança, que as gerações que estão vindo já têm essa questão da empatia, sensibilidade, de se colocar no lugar do outro”, reforçou Quercia. Para encomendar as cartinhas do "Correio da Casa", é preciso enviar uma mensagem para as redes sociais da tia de Marina. O interessado deve fornecer o nome, a mensagem, número de telefone e nome do destinatário. A forma de pagamento é transferência para conta poupança ou, em caso de pelo menos quatro cartas, boleto bancário. Marina ainda não decidiu se, em julho, seguirá contribuindo com a vaquinha da Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência ou se retomará o projeto inicial de ajudar o Médico Sem Fronteiras. De certeza, a garota e a família têm que, após a pandemia, as cartas serão enviadas fisicamente para os seus respectivos destinatários. Até lá, a garota espera que todos respeitem o isolamento social. Filha de um médico, ela tem acompanhado de perto a luta contra o coronavírus. "Quero pedir também que as pessoas fiquem em casa, porque meu pai e outros médicos estão se arriscando nos hospitais. Quero que isso passe logo", disse a garota, que sonha em, assim como o pai, ser médica.*G1BAHIA — Foto: Caren Queiroz Souza/Arquivo pessoal

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