Com a pandemia do coronavírus e consequente queda bruscas nas vendas, microempreendedores que geralmente dependem da receita mensal para cobrir os custos de manutenção, garantir pagamento dos salários dos funcionários e ainda tirar o lucro passaram a contabilizar prejuízos. Algumas alternativas foram anunciadas pelo governo federal, entre elas, há um conjunto de linhas de financiamento:
· Crédito livre do BNDES
· Crédito para girar a folha de pagamento, também oferecida via BNDES
Financiamento da Caixa
Em Salvador, donos de pequenas lojas de roupa relatam, entretanto, que não conseguem obter os financiamentos, por causa das exigências. Muitas vezes, eles não possuem movimentação anual necessária e, por isso, não têm como comprovar renda. Em entrevista ao G1, Alice Sales, dona da marca Tons da Terra, que produz roupas em tecidos africanos, contou que pesquisou o financiamento via crédito livre do BNDES e o da Caixa, mas não conseguiu o auxílio, porque não tinha a movimentação anual necessária para ter o crédito aprovado. "Eu fiz a pesquisa do BNDES e da Caixa para ver o auxílio para o microempreendedor, mas o teto de movimentação anual é alto para a gente que é microempreendedor do microempreendedor. É uma grande ‘massa’ que tem aqui em Salvador, esses pequenos empreendedores que vivem de pequenas vendas e são vendas que podem gerar no mês R$ 3 mil, R$ 4 mil, mas que não é recorrente fazer todo mês esse valor de venda", disse Alice. Alice disse que outro empecilho encontrado por ela durante a busca pelo crédito foi a necessidade de comprovação das vendas. Segundo a vendedora, as vendas diminuíram durante a pandemia e muitas delas são feitas sem notas fiscais. "Quando a gente vai para o cálculo, a gente não bate a meta que eles pedem e também não tem como fazer a comprovação, porque nem todas as vendas são por nota, e aí a gente fica dependente, porque os microempreendedores não têm acesso ao auxílio, eu mesmo não tenho, por conta desse teto, que eu não consigo alcançar e não tenho como comprovar". A microempreendedora acredita que uma alternativa de crédito deveria ser criada para comerciantes que tenham lucro anual menor. "Era bom se eles tivessem outros tipos de auxílio até com o valor menor, de R$ 1 mil, R$ 2 mil, R$ 3 mil até R$ 5 mil, para contemplar esses empreendedores que têm um teto menor que R$ 30 mil anualmente", opinou. O empreendedor Vander Charles, que criou a marca Black Atitude, em 2006, para levar militância negra às pessoas por meio das roupas, também enfrenta dificuldades para manter a empresa no período da pandemia. “Essa pandemia veio de uma forma muito agressiva, tirando o pouco que a gente tinha. O movimento do micro empreendedorismo já não estava com tanta saúde e, quando começou a pandemia, veio essa preocupação. Como se manter com uma empresa que não tem um cofre para se manter durante a pandemia? A gente vive do que a gente vende, produz de novo, para vender de novo, e assim a gente vai sobrevivendo e seguindo nossa caminhada”, contou. Segundo o vendedor, existe a dificuldade de arrecadar dinheiro para pagar os custos fixos, como aluguel e funcionários, além de retirar o lucro mensal. "As preocupações eram os custos fixos como aluguel, funcionários. Inclusive lá na loja, a pessoa que trabalha lá estava gestante, teve que afastar porque era grupo de risco, e aí manter essa funcionária em casa e tudo isso se tornou muito pesado para nós”. Assim como Alice, Vander também enfrentou dificuldades para conseguir uma linha de crédito. Ele também tentou um auxílio emergencial, que está em análise.
“Eu nunca tinha pensado em buscar uma linha de crédito e decidi procurar. Na verdade, eu não vi oportunidades explícitas de dizerem assim: ‘Olha, esse banco aqui vai está fornecendo uma linha de crédito para microempreendedores’. Não vi isso aí, mas fui até o banco com o qual trabalhava, mas foi tanta burocracia, tanta dificuldade”, contou Vander.
“Tentei também a linha de auxílio emergencial. A empresa se enquadra nessa linha, mas até hoje estamos em análise, e é essa dificuldade para sobreviver. Sobrevivendo apenas das poucas vendas que Deus está tocando para a gente sobreviver”.
A solução encontrada por Vander para vender as roupas da Black Atitude durante o período do Dia das Mães foi abaixar o valor das peças quase na metade dos preços e fazer a entrega grátis nas casas dos clientes. "A roupa não é um produto essencial. Nós temos contado com clientes que estão comprando para ajudar, para poder manter o movimento, mas só que é uma coisa muito mínima. A gente vende hoje 5 a 10% do que a gente vendia".*G1BAHIA— Foto: Afrojob