Afrojob: Falta de referências inspira tatuador a criar projeto e abrir estúdio dedicado à arte em pele negra.
19/07/2019 08:56 em Bahia

A falta de referências de tatuagens em peles negras pode manter profissionais da área em uma zona de conforto, mas no caso do tatuador baiano Finho, se tornou um fator impulsionador para estudar e desenvolver a arte na tez escura. Tatuando desde 2001, criar o projeto #pelepretatatuada foi o pontapé que ele precisava para abrir o próprio negócio e se tornar chefe de si. [O G1 traz nesta sexta-feira (19) mais um episódio do Afrojob, quadro que trata sobre o afroempreendedorismo em Salvador. Você vai conhecer, todos os meses, histórias de pessoas negras que comercializam produtos e serviços voltados para a população preta] Hoje, Finho tem o Estúdio Retinto na região do Campo da Pólvora, que fica no bairro de Nazaré, em Salvador. Ele faz artes autorais, muitas baseadas na identidade histórica do povo preto. Finho conta como surgiu a ideia de se especializar, tanto nos desenhos em peles negras, quanto na criação de elementos que simbolizassem a cultura africana. "A gente via sempre modelos naquele padrão caucasiano [branco], tinha toda uma gama de origens diferentes, como a nórdica, oriental, europeia, mas você não via a África sendo representada ali. Raramente algum símbolo, normalmente um adinkra [conjunto de símbolos da África Ocidental]. Minha ideia foi trazer personagens que eram parecidos comigo". "É uma dificuldade desde que comecei a me tatuar. Eu não conseguia ver como ia ficar no meu tom de pele, porque não tinha em revista, catálogo. Então eu criei desenhos que se parecem comigo, mas também fiz tatuagens nas peles que parecem com a minha e, principalmente, fotografei isso, cataloguei" De tatuado a tatuador, Finho então passou a usar a própria pele como um mostruário para expor aos clientes como as técnicas e cores das artes ficariam. "Às vezes, a pessoa tinha um pouco de dúvida, que era a mesma dúvida que eu tinha quando comecei a me tatuar. Eu tentava suprir um pouco isso falando: 'Olha, isso que você está querendo fazer vai funcionar mais ou menos assim', e já exibia alguma tatuagem minha para a pessoa entender. Era basicamente isso", lembra. "A pessoa não ia encontrar resposta no álbum, mas tinha a vantagem de ver em mim, enquanto pessoa negra tatuada no estúdio. E por eu ser tatuador, já explicava o que funcionava e o que não funcionava tão bem" Mostrar como a tatuagem funciona na pele negra talvez seja um dos principais desafios de Finho. Entre alguns mitos, como por exemplo: "tintas brancas e coloridas não aderem", ele detalha qual é a principal diferença entre tatuar negros e pessoas com outros tons de pele. "É basicamente o cuidado com o pós[-tatuagem], porque a pele negra tem uma tendência maior à queloide [cicatriz volumosa], então tem que ter o cuidado de não machucar a pele além do que se precisa. E o cuidado de se pensar o desenho, porque a maneira que você vai trabalhar um contorno vai ser diferente, a maneira de se trabalhar um sombreado para deixar o desenho com uma definição, para que o desenho não fique uma coisa meio indefinida", pondera.*G1BAHIA — Foto: Itana Alencar/G1 BA

 

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