Morte de jovem agredido no carnaval de Salvador completa 1 ano e mãe diz que luto ainda é presente: 'A vida sem ele é terrível'
Bahia
Publicado em 14/02/2019

"Foi uma tortura, e hoje eu estou revivendo essa tortura. Não está sendo fácil para nós. Não vou dizer que durante esses meses eu esqueci. Nunca. Todos os dias eu lembro, eu penso. Mas esse período está sendo muito difícil. Muito mais do que os meses que passaram". As frases de Ana Rita Moreira se referem à dor de ter perdido o filho, morto após ser agredido durante o carnaval de 2018, em Salvador. O jovem Kaíque Moreira Abreu, 22 anos, morreu há um ano, no dia 14 de fevereiro de 2018. Estudante de engenharia mecânica, ele foi agredido com um soco no rosto, no bairro da Graça, enquanto voltava do carnaval de Salvador, após ter se perdido do grupo de amigos, na madrugada do dia 9 de fevereiro do mesmo ano. À época do crime, o acusado Edson Rodrigues dos Santos, 28 anos, confessou ter agredido Kaíque e disse em depoimento ao delegado José Alves Júnior, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que deu um soco no jovem para descontar uma agressão que teria sofrido de outra pessoa na folia. Kaíque ficou internado em estado grave por cinco dias no Hospital Português, na Barra, antes da morte encefálica ser declarada. Desde a notícia de sua internação e posterior falecimento, a rotina da família foi completamente alterada, especialmente a de Ana Rita. "A vida da gente sem ele é terrível. Uma lacuna aberta que nada preenche. É uma ferida que não tem como cicatrizar, pelo menos por agora", disse Ana Rita. A mãe do jovem conta que Kaíque trabalhava com ela e passava praticamente o tempo todo na companhia da mãe, antes de ir estudar, à noite. "Para mim é um vazio muito grande. Esse ano passou muito rápido, eu não tenho nem noção de tempo exato, porque para a imprensa passou um ano, mas para mim foi ontem. É muito recente ainda", fala. "Esse ano que passou sem ele, se eu pudesse apagar, eu teria apagado. A gente não viveu nesses últimos tempos, a gente foi empurrando, para chegar aqui até hoje" O jovem completaria 23 anos no dia 11 de janeiro deste ano. De pouco mais de duas décadas em que esteve vivo, é lembrado pela família como um rapaz tranquilo, educado e sorridente. "Ele só nos trouxe coisas boas nesses 22 anos em que pôde estar conosco. Foram os melhores de nossas vidas, mas infelizmente aconteceu isso, e ele se foi", descreveu Ana Rita. "Eu só consigo lembrar de Kaíque como algo de bom, como tudo de bom. A única parte ruim, a única parte negativa que eu lembro dele, foi com esse episódio. Fora isso, ele só me deu alegria" Entre os momentos marcantes que compartilhou com o filho, Ana Rita lembra especialmente das manhãs. "Ele, todo dia de manhã quando acordava, às 7h30 em ponto, descia as escadas e me chamava: 'Mãe? Mãe?'. Eu gostava de ouvir ele falar 'mãe', aí eu ficava calada para ele ficar repetindo. Todos os dias. Era impressionante como ele fazia isso todos os dias".

Quando lembrada do momento que descreve como o mais triste da própria vida, Ana Rita se emociona ao falar de como descobriu a agressão que o filho sofreu. "Eu fiquei sabendo de manhã. Eram 4h, quando o hospital ligou para mim, falando que ele tinha sofrido uma agressão física e que era pra gente se dirigir até lá. Eu fui na esperança de que ele estivesse bem. Tipo assim: se o hospital ligou, alguém deu o número. Eu imaginei que ele tivesse dado o número, que ele tivesse sofrido qualquer outra coisa e que ele estava bem. Só que quando eu cheguei no hospital, ele já estava em coma", relatou ela. "Para mim foi um desespero encarar aquilo tudo. Ainda ter que ouvir toda hora boletim [médico] dizendo que estava com suspeita de morte encefálica. Foram cinco dias terríveis, os piores. Até que concluiu a morte, e aí não teve mais jeito"

 

 

 

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