Justiça concede prisão domiciliar a gerente suspeito de envolvimento nas mortes de funcionários de ferro-velho na Bahia
Bahia
Publicado em 19/12/2024

A Justiça concedeu, nesta quinta-feira (19), a prisão domiciliar do gerente suspeito de envolvimento nas mortes dos dois jovens funcionários de ferro-velho, que desapareceram há 45 dias, em Salvador. Os corpos das vítimas ainda não foram encontrados.

Wellington de Oliveira Barbosa, conhecido como 'Cabecinha', vai cumprir medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica.

A decisão foi tomada após uma audiência de custódia e depois que a defesa apresentou um laudo médico que comprova que 'Cabecinha' tem hanseníase, uma condição que demanda cuidados médicos especializados. O juiz responsável pelo caso determinou que o estado de saúde do investigado justifica o cumprimento das medidas alternativas à prisão.

 

Apesar de ter sido solto, 'Cabecinha' permanece sob investigação pelas mortes de Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento e Matusalém Silva Muniz, que foram vistos pela última vez no dia 4 de novembro, ao entrarem no ferro-velho onde eles trabalhavam.

O policial militar conhecido como 'Maguila' segue preso, enquanto o proprietário do ferro-velho, Marcelo Batista, continua foragido.

 

Mudança nas investigações

 

Laudos periciais analisados pela Polícia Civil apontaram que os dois jovens funcionários de ferro-velho, que desapareceram há 43 dias, em Salvador, foram assassinados dentro do estabelecimento.

A informação foi divulgada na terça-feira (17) pelo delegado Nelis Araújo, da 3ª Delegacia de Homicídios, no mesmo dia que o soldado da Polícia Militar e o gerente do estabelecimento foram presos.

"Se no primeiro momento a polícia investigava os desaparecimentos, neste momento a polícia pode pontuar com convicção, através dos laudos periciais, que foi encontrado similaridade no perfil genético com as vitimas e com seus familiares", afirmou o delegado.

 

"O DHPP providenciou coletar o material para o DNA e esse exame apresenta um perfil de similaridade genética com as vítimas, o Matusalém e o Paulo Daniel", pontuou Nelis Araújo.

 

O desaparecimento de Paulo e Matusalém completou um mês em 4 de dezembro. Os dois jovens foram vistos pela última vez ao ao sair de suas respectivas casas para trabalhar como diaristas no ferro-velho, localizado no bairro de Pirajá.

 

O dono do empreendimento, Marcelo Batista da Silva, é considerado o mandante do crime. Em 9 de novembro, a Justiça decretou a prisão preventiva do empresário, mas ele fugiu e é procurado pela polícia, desde então. [Saiba mais sobre o empresário ao final da reportagem]

soldado da PM preso nea terça, em Salvador, foi identificado apenas com o apelido de "Maguila". Ele lotado na 19ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) de Paripe. O agente foi levado no carro da Corregedoria da Polícia Militar para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde será ouvido.

O delegado informou que as investigações apontaram que o soldado, o gerente do ferro-velho e Marcelo Batista se conhecem há anos. "São indivíduos que não fizeram associação para praticar crime agora, todos eles atuam em longa data juntos".

Nelis Araújo pontuou ainda que apesar das investigações apontarem envolvimento da dupla presa nesta terça, ainda não é possível afirmar a participação de cada um deles nos assassinatos dos jovens.

Veja abaixo como foi detectado os materiais genéticos das vítimas:

 

  • Um vestígio de sangue apontou que Matusalém foi agredido dentro do escritório do ferro-velho.

 

 

"As testemunhas relatam e denunciam torturas praticadas pelo Marcelo e encontramos sangue do Matusalém dentro do escritório", detalhou o delegado que investiga o caso.

 

 

 

  • Vestígios de sangue de Paulo Daniel foram encontrados no carro de Marcelo Batista. Também foram encontradas impressões digitais no encosto de um dos bancos do veículo.
  • A perícia e os laudos periciais apontaram ainda que o local passou por um tratamento com substância química para adulterar o cenário do crime.

 

Além dos presos nesta terça-feira, outras pessoas, incluindo policiais, são suspeitas de envolvimento no caso e já tiveram os pedidos de prisões preventivas solicitados. Os nomes deles não foram divulgados.

 

"Toda a atuação da Polícia Civil tem sido abraçada pelo Ministério Público e contado com o apoio do Poder Judiciário. Entendemos que a investigação só vai fluir melhor se for mantido sigilo de algumas providencias necessárias", disse o delegado.

 

 

Participação de Marcelo em outros crimes

 

Marcelo é dono do ferro-velho onde jovens trabalhavam e está foragido da Justiça — Foto: Redes sociais

Marcelo é dono do ferro-velho onde jovens trabalhavam e está foragido da Justiça — Foto: Redes sociais

Ainda nesta terça-feira, o delegado Nelis Araújo afirmou que Marcelo Batista é investigado "em uma série de crimes, que foram praticados nessa capital".

 

"Nós precisamos, e o DHPP tem a firme determinação de apresentar o indiciamento de Marcelo nesta oportunidade e em todos os crimes que ele participou".

 

O delegado não detalhou os crimes nos quais Marcelo Batista é investigado, mas afirmou que uma das vítimas também foi funcionária do empresário e teria sido executada após receber ameaças do ex-patrão.

 

Quem é o dono do ferro-velho?

 

Marcelo Batista da Silva é o dono do empreendimento. Além do mandado de prisão em aberto em relação ao desaparecimento dos dois jovens, o nome do empresário aparece em investigações a respeito de outros crimes. Segundo a polícia, ele é:

 

  • investigado por duplo homicídio
  • investigado por tentativa de homicídio
  • apontado com envolvimento com milícia e facção criminosa
  • responde por violência doméstica contra a ex-mulher

 

Na Justiça do Trabalho, ele responde nove processos que estão em tramitação. Outros 60 foram arquivados. As acusações abordam descumprimento de pagamento de salário, horas extras, assédio sexual e tortura.

Local onde os jovens trabalhavam em Salvador — Foto: TV Bahia

Local onde os jovens trabalhavam em Salvador — Foto: TV Bahia

 

A suspeita do envolvimento do empresário no crime foi denunciada pelas famílias dos jovens, que relataram que Marcelo havia acusado os jovens de furto.

Ao longo das investigações, o carro do suspeito foi periciado. O veículo foi encontrado em uma loja especializada em veículos de alto patrão, na cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Avaliado em R$ 750 mil, o carro foi deixado no local por outro homem, que solicitou a troca dos bancos alegando ter adquirido o bem com alguns pontos de sujeira.

A versão dada pelo empresário, em 8 de novembro, antes de ter o mandado de prisão expedido, é que teve cinco toneladas de fardo de alumínio furtados nos últimos dois meses e que conseguiu recuperar 500 quilos em 3 de novembro, após seguir o caminhão usado no crime.

Segundo ele, no dia 4 de novembro, enquanto registrava ocorrência policial contra um terceiro funcionário, que não teve o nome divulgado, Paulo Daniel e Matusalém foram flagrados em outro furto à empresa.

Marcelo Batista ainda informou que planejava ligar para a polícia, para fazer um flagrante no dia seguinte e recuperar a carga roubada. No entanto, os jovens não apareceram para trabalhar e nunca mais entraram em contato.

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