Jovem de 18 anos é morto a tiros durante ação policial em Salvador; PM diz que houve confronto, família nega
Bahia
Publicado em 16/10/2024

Um jovem de 18 anos foi morto a tiros na localidade da Rocinha, no bairro do IAPI, em Salvador, na noite de terça-feira (15). A Polícia Militar informou que o caso ocorreu após confronto entre homens armados e equipes da corporação. A família e moradores, no entanto, nega essa versão.

Por causa da morte de Alex Silton, moradores protestaram ainda na noite de terça, na Avenida San Martin. No início a tarde desta quarta-feira (16), o grupo voltou a se manifestar no local e os policiais usaram artefatos para dispersar as pessoas.

Segundo a família de Alex Silton de Oliveira, ele estava na rua onde morava, por volta das 18h, quando os policiais chegaram na localidade e dispararam contra o jovem, que foi atingido por três tiros na cabeça. Familiares disseram ainda que Alex não tem envolvimento com a criminalidade.

 

"Eles já chegaram atirando e mataram o menino, inocente, com três tiros na cabeça. Eles só entram aqui atirando, matam gente e dizem que é troca de tiros", disse uma moradora que preferiu não revelar a identidade.

 

"Eles fazem isso porque não dá nada para eles. O morador que sofre, porque o ente querido morre, e é isso aí", lamentou.

 

Além de entrar na comunidade atirando, os moradores disseram que os agentes da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar roubam estabelecimentos comerciais, invadem casas sem mandado judicial e ameaçam pessoas.

Em nota, a corporação informou que nunca recebeu denúncias formais sobre esses assuntos no bairro e pediu para que os moradores procurem a sede da 37ª CIPM ou a Corregedoria da PM para registrar os fatos. 

 

Sonho de ser militar

 

Os pais de Alex Silton contaram que o jovem ia buscar a bag (mochila) e a camisa da pizzaria onde trabalhava como motoboy, para iniciar mais uma noite de trabalho. Em agosto, quando completou 18 anos, recebeu a informação de que serviria ao Exército em 2025.

 

"Ele ia para o Exército em janeiro, ia se apresentar. Ele sempre quis servir o Exército ou Marinha", contou a mãe do jovem, Elisângela, emocionada.

 

Também emocionado, o pai de Alex Silton, Alexandre, afirmou que chegou a contar para os policiais, após encontrar o filho morto, que o jovem se tornaria militar no próximo ano.

'Meu filho foi aprovado no Quartel de Amaralina e estava esperando chegar janeiro para saber a data que ia se apresentar. O sonho do meu filho era ser militar", contou o pai do jovem.

 

"Quando eu falei para eles, os assassinos da 37ª CIPM, que eles mataram um futuro soldado do Exército, eles ficaram com uma cara de espanto. Vocês vão pagar, eu vou procurar a Corregedoria", afirmou.

 

 

Denúncia de ameaça ao irmão do jovem

 

Os familiares do jovem contaram que o irmão de Alex Silton, um adolescente de 16 anos, foi ameaçado por policiais nesta quarta-feira, quando foi encher o pneu de uma motocicleta, em uma oficina do bairro.

 

"Os policiais chegaram na borracharia, para meu filho, que tem apenas 16 anos, e disseram: 'Você é irmão, né? Do que a gente já matou. O próximo vai ser você. Vigie'", contou o pai dos jovens.

 

Ainda segundo Alexandre, o momento que Alex Silton foi executado foi presenciado por uma moradora, que foi forçada a entrar em casa, segundos antes de ouvir os tiros.

"A moça falou para eles: 'Não mate o menino'. Eles mandaram a moça entrar, xingaram a mãe de família e executaram o meu filho. Agora eu quero pedir: governador, venha cá, por que você não ouve o pai? A testemunha, que pediu para seus comandados, que são assassinos, para não matar meu filho, que é trabalhador?".

 

O que diz a Polícia Militar

 

Em nota, a Polícia Militar informou que a ação policial que terminou com a morte de Alex Silton foi registrado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e será investigado.

Sobre as denúncias de roubos, invasões e a ameaças por parte dos policiais da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), feitas por moradores durante o Bahia Meio Dia, programa da TV Bahia, não foram registradas na sede da corporação e nem na Corregedoria.

De acordo com a PM, os registros podem ser feitos junto à Ouvidoria do Estado ou na Corregedoria da corporação, na Rua Amazonas, no bairro da Pituba, em Salvador.

A Polícia Militar ainda reiterou compromisso inabalável com a ética, a transparência e o respeito à lei, e destacou que toda e qualquer conduta que viole os princípios institucionais é investigada de forma rígida.

A corporação reforçou que nenhum comportamento que esteja à margem da legalidade será tolerado e, havendo comprovação de ilegalidades, medidas cabíveis serão adotados, respeitando o processo legal e o direto à ampla defesa.

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