Casal denuncia intolerância religiosa após ser expulso por dona de apartamento na Bahia
Bahia
Publicado em 27/02/2024

Um casal denuncia ter sido expulso do apartamento onde morava, no bairro do Garcia, em Salvador, após ter sido vítima de intolerância religiosa pela dona do imóvel. Desde o dia 11 de fevereiro, Diego Caldeira e Jessica Rabêlo estão morando provisoriamente na casa de uma vizinha.

A designer de moda e o cozinheiro viviam no apartamento há nove meses. A situação começou em dezembro do ano passado, quando a mãe da dona do imóvel disse que passava por dificuldades financeiras e queria alugar um dos quartos do apartamento para três pessoas no período do carnaval.

 

Os inquilinos concordaram, mas no dia 10 de fevereiro, sábado de carnaval, nove pessoas entraram no apartamento. Segundo Diego e Jessika, a dona do imóvel disse a princípio que seriam três pessoas, e depois seis.

 

"Eu não sei como aquelas pessoas viam a gente dentro do apartamento. Eu não sei se eles pensavam se nós alugamos para o carnaval. [...] Eles foram entrando e já tendo acesso a tudo", afirmou Diego Caldeira.

 

O casal relatou que entrou em contato imediatamente com a dona do apartamento para saber quem eram aquelas pessoas. "Ela disse que [as pessoas] eram familiares e que se nós não gostássemos da presença deles, poderíamos arrumar nossas coisas e irmos embora naquele exato momento", contou o cozinheiro.

 

"Vocês vão sair daí porque o apartamento é meu. Eu vou passar uma mensagem para a portaria para vocês não entrarem no prédio. Então vocês têm 24 horas para tirar as coisas de vocês e saírem, tá certo?", disse a dona do apartamento através de uma mensagem de áudio.

 

O casal disse que saiu do apartamento para pedir ajuda policial e ao retornar foram impedidos de entrar no imóvel. Eles contaram que recorreram à Defensoria Pública da Bahia (DPE) e conseguiram tirar os pertences de casa, que desde então, estão em um pequeno depósito do prédio.

Jéssika e Diego contam que durante as tentativas de diálogo com a responsável pelo apartamento foram vítimas de racismo religioso, porque em um dos quartos do imóvel eles mantinham imagens de orixás. Os candomblecistas entregaram gravações à polícia com áudio da dona do apartamento.

 

"Estou com as fotos das 'macumbas' que vocês têm aí dentro do quarto. Vocês intimidaram o pessoal aí. Vai ter todo mundo como testemunha", afirmou a proprietária do imóvel.

 

A designer de moda trabalhava no apartamento, e por causa disso, a máquina de costura está parada há quase duas semanas. Ela precisou recusar trabalho de um ateliê. O casal relatou que recebeu o aluguel que havia sido pago com antecedência.

O síndico do condomínio repudiou a intolerância religiosa cometida pela dona do apartamento e convocou uma reunião com os moradores.

A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial de Salvador acompanha a situação. O casal recebeu acolhimento, orientação jurídica e apoio social e psicológico. A Sepromi também está em contato com as instituições que apuram os crimes.

"Há um somatório de tantas violações como quebra de contrato entre inquilina e locatário, agressões verbais, ameaças, intimidações, racismo religioso, difamação e calúnia na vizinhança, impacto econômico no trabalho da vítima porque ela trabalhava em casa. Nós esperamos que a justiça considere todos esses fatos e de fato designe uma pena", disse Ângela Guimarães, secretária da Sepromi.

 

A equipe de reportagem da TV Bahia entrou em contato com a dona do apartamento, que não autorizou que a conversa fosse gravada, nem que o conteúdo fosse divulgado. Ela também disse que não tinha motivo pra informar o telefone do advogado dela.

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