Antes da polêmica do acarajé cor de rosa, quitute tradicional da BA já foi feito como pizza, picolé e ganhou até versão doce; veja
Bahia
Publicado em 21/07/2023

Antes de ser tingido de rosa no desafio da Barbie e virar polêmica, o acarajé, tradicional quitute da Bahia, já foi alvo de outras mudanças na receita e até no formato. Empreendedores baianos usaram a receita tradicional para transformar o bolinho em pizza, picolé, ovo de Páscoa e até versão doce.

Principal entidade ligada ao ofício das baianas de acarajé, a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM) é crítica das inovações. A ABAM indica que o quitute é "um patrimônio", e que as versões não podem ser chamadas de acarajé, e, no máximo, de bolinho de feijão.

Isso porque, no universo do candomblé, o acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos orixás, sendo uma das razões pela qual a receita do acarajé se mantém sem muitas alterações.

 
Acarajé rosa — Foto: Reprodução

Acarajé rosa — Foto: Reprodução

Em meio às polêmicas, o g1 listou alguns dos acarajés 'diferentes' que foram notícia no estado. Veja a lista e relembre as histórias.

 

Pizzajé e a pizzará

 

 "Pizzajé" pode ser servido de maneira tradicional, em folha de bananeira, com opções de recheio diversos  — Foto: Juliana Almirante/ G1

"Pizzajé" pode ser servido de maneira tradicional, em folha de bananeira, com opções de recheio diversos — Foto: Juliana Almirante/ G1

 

Em 2017, o acarajé e o abará ganharam formato de pizza pelas mãos da estudante de gastronomia e "personal chef" baiana, Claudia Cristina Santos Conceição, de 41 anos. Na época desempregada, ela criou a “pizzajé” e a "pizzará" para pagar as contas.

Como a criação deu certo, Claudia decidiu patentear os nomes "pizzajé e pizzará". A receita leva ingredientes similares aos usados nos quitutes originais e a principal diferença está no formato de pizza. Confira a história da criação.

 

Barca de acarajé e abará

 

Barca de sushi onde são servidos acarajé e abará em Salvador — Foto: Maiana Belo/G1 BA

Barca de sushi onde são servidos acarajé e abará em Salvador — Foto: Maiana Belo/G1 BA

Os amantes de comida japonesa conhecem bem a barca de sushi: o recipiente em formato de barco é recheado com sashimi, hot holl, uramaki e outros tipos da iguaria oriental. Na Bahia, o recheio foi substituído por acarajé, abará, camarão, vatapá e salada.

 

A ideia foi de Adriana Ferreira, a mesma criadora do acarajé cor de rosa. Ela lançou a barca em 2017, cerca de seis anos antes da polêmica do acarajé da Barbie. Na época, a invenção era vendida por R$ 30 no Acarajé da Drica, loja da vendedora que fica no Subúrbio de SalvadorVeja a história completa.

 

Picoré e picorá

 

Picoré e picorá foram criados na Bahia — Foto: Redes sociais

Picoré e picorá foram criados na Bahia — Foto: Redes sociais

Não satisfeita em inventar a pizzaré e a pizzará, Claudia Cristina Santos Conceição criou o picoré e o picorá em 2020. A receita tem a mesma proposta das pizzas: investir no sabor do acarajé e do abará, mas em formato de picolé.

 

Diferente do tradicional, o picolé servido por Claudia não é frio. Ele é frito, feito com a receita base do acarajé, e tem um "patêzinho" que faz a iguaria se assemelhar com uma paleta mexicana. Confira a história do picoré e do picorá.

 

Ovo de acarajé

 

Ovo de acarajé — Foto: Redes sociais

Ovo de acarajé — Foto: Redes sociais

Na febre dos ovos de páscoa recheados, Claudia aderiu à moda com o ovo de acarajé e o ovo de abará. Na mesma linha dos outros produtos, a base do ovo, que normalmente seria a casca de chocolate, são os quitutes baianos.

No recheio, a liberdade fica a gosto do cliente, que pode optar pelos acompanhamentos do bolinho, como camarão, vatapá, pimenta e salada, por exemplo.

 

 

Acarajé doce

 

Acarajé doce feito com goiaba e açúcar é criado em Feira de Santana — Foto: Reprodução/Jornal da Manhã

Acarajé doce feito com goiaba e açúcar é criado em Feira de Santana — Foto: Reprodução/Jornal da Manhã

A vendedora Daniele Paiva, de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, criou uma receita de acarajé doce. A massa tradicional, que é preparada com feijão fradinho, passou a levar goiabada e açúcar. A mudança na receita também foi alvo de críticas da Associação Nacional de Baianas de Acarajé (ABAM). Relembre essa história.

 

O acarajé

 

O acarajé é um bolinho de massa de feijão frito no azeite de dendê. A massa é feita com feijão fradinho moído, água, sal e cebola. Antigamente as baianas demoravam um dia inteiro para tirar a casca do feijão fradinho e fazer a massa do acarajé. Hoje elas compram já descascado, o que gera uma economia de tempo, e mantém o mesmo sabor, além de custar menos.

 
Acarajé é um bolinho de massa de feijão frito no azeite de dendê — Foto: Globo Repórter

Acarajé é um bolinho de massa de feijão frito no azeite de dendê — Foto: Globo Repórter

A cebola é misturada à massa pouco antes da fritura do bolinho no azeite de dendê. O recheio é vatapá, caruru e camarão seco (defumado).

 

Alimento sagrado

 

A preparação do àkàrà je, que significa comer bola de fogo na língua Iorubá, desembarcou no Brasil junto com os escravos oriundos do Golfo do Benim, na África Ocidental. No universo do candomblé, o acarajé é comida sagrada e ritual, ofertada aos orixás, sendo uma das razões pela qual a receita do acarajé se mantém sem muitas alterações.

Acarajés é alimento sagrado para os seguidores de religiões de matrizes africanas — Foto: Max Haack/Ag Haack

Acarajés é alimento sagrado para os seguidores de religiões de matrizes africanas — Foto: Max Haack/Ag Haack

 

Transmitida oralmente ao longo dos séculos por sucessivas gerações, o acarajé - bolinho de feijão fradinho frito no azeite de dendê - era comercializado no período colonial pelas escravas de ganho ou negras libertas, proporcionando a elas a sobrevivência após a abolição da escravatura.

Séculos depois, o ofício ganhou o Dia Nacional da Baiana do Acarajé, comemorado em 25 de novembro e, desde 2017, a profissão foi incluída na lista de Classificação Brasileira de Ocupações.

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