A defesa da paciente gestante investigada por suspeita de cometer crime de homofobia contra um médico gay, no Hospital da Mulher, em Feira de Santana, a 100 km de Salvador, disse que ela não recusou atendimento pela orientação sexual dele, mas sim por ele ser homem.
O caso é investigado pela delegacia da cidade. Segundo o advogado Armênio Seixas, a paciente foi exposta dias antes de dar à luz, um momento em que deveria ser acolhida pela equipe médica.
"Ela se negou a ser atendida pelo médico não pela questão da opção sexual. Ela não se sentiu a vontade por ele ser homem, por isso que ela se negou a ser atendida. Ela foi afrontada de alguma maneira para ser atendida pelo profissional. Desde a época que ela fazia o tratamento ginecológico, ela nunca foi atendida por homem."
"Ela estava passando por um momento em que a mulher tem que ser acolhida e ela foi desrespeitada para ser atendida por um médico", considerou o advogado.
Armênio disse ainda que vai adotar medidas contra os dois médicos: o que fez o relato da ofensa homofóbica, e o que usou uma peruca para fazer o atendimento da paciente.
Médico denuncia homofobia de paciente em Feira de Santana, na Bahia — Foto: Redes sociais
"A conduta foi extremamente desnecessária. Assim que formos convocados e intimados, vamos comparecer à delegacia. Em contrapartida, vamos registrar boletim de ocorrência, e também vamos procurar o Conselho Regional de Medicina para tomar as medidas cabíveis".
Diretor de hospital diz que houve homofobia
O diretor do hospital, Francisco Mota, reiterou o posicionamento de que houve homofobia na postura da paciente, e que não houve erro no fato de o médico ter colocado peruca e batom para atender a gestante.
"O hospital entende que não há dúvida do caso de homofobia, tanto que, quando acionado, eu orientei o médico de que fosse à delegacia para registrar a queixa. Agora cabe à polícia investigar e à Justiça julgar, se for o caso. Não há nenhuma falha ética no atendimento do colega ela. Em nenhum momento ofendeu a paciente".
"Em relação à paciente, ela está recebendo todo atendimento como foi desde o início. Em nenhum momento ela foi exposta. A paciente foi atendida como todas as pacientes da unidade", complementou o diretor do hospital.
A advogada do hospital, Luciana Assis, disse que, por ser uma unidade pública, não é possível que a paciente escolha o gênero do médico ao qual vai ser atendida.
"O Hospital da Mulher é um hospital público e atende 82 municípios. Nós não temos como escolher qual o médico irá atender cada paciente. Nós atendemos a questão da saúde que a paciente apresenta", argumentou.
Entenda o caso
Médico denuncia homofobia de paciente em hospital na BA
O caso aconteceu no dia 4 de junho, um domingo, e foi registrado em delegacia no dia 5. São investigados os crimes de homofobia e desacato a funcionário público no exercício da função. Um registro da suposta discriminação também foi feito na ouvidoria do hospital.
A gestante chegou ao hospital para iniciar o internamento do parto do bebê. Ela foi atendida pelo médico Phelipe Balbi Martins, que fez os exames laboratoriais e solicitou uma cardiotopografia, que monitora os batimentos cardíacos do bebê, movimentos e oxigenação.
Ao sair da sala do obstetra para aguardar a realização do exame, a paciente proferiu o insulto homofóbico contra o médico, que é gay e ouviu a ofensa.
"Ela saiu, se dirigiu ao corredor e sentou em uma das cadeiras na porta do consultório. A partir do momento em que ela sentou, disse para outras pacientes que estavam no corredor: ‘eu odeio ser atendida por homossexual’. A outra pessoa que estava do lado dela, não sei se paciente ou acompanhante, ainda falou: ‘dá para ele ouvir de lá’. E ela: ‘não dá, não’", descreveu Phelipe.
"A partir deste momento, ouvindo o que ela falou, eu levantei de onde eu estava, abri a porta e falei para ela: ‘homofobia é crime, preconceito é crime, e o desacato ao funcionário público no exercício da profissão também é crime’”.
Médico usa peruca e maquiagem para atender paciente em hospital na Bahia — Foto: Redes sociais
Repercussão nas redes sociais
Em protesto contra homofobia em hospital na BA, médico atende paciente de peruca
Além do próprio Phelipe, outro responsável por denunciar o caso nas redes sociais foi o médico obstetra Carlos Lino. Depois de ter saído da sala abalado, Phelipe encontrou Carlos, que entendeu a situação e assumiu o atendimento à paciente.
Carlos, que também é gay, decidiu fazer o atendimento usando uma peruca e batom, como forma de protesto. Segundo ele, houve uma conversa com a gestante, que reconheceu a homofobia.
“Ela entrou no consultório normal, não estava estarrecida com nada. Na verdade, nós já tínhamos conversado antes no corredor, então foi uma consulta tranquila. Ela reconheceu, chegou a chorar em algum momento. Eu falei com ela que seria de bom tom pedir desculpas ao colega, e ela se mostrou apta a isso”, contou Carlos.
É previsto que pelo menos sete pessoas prestem depoimento na delegacia, entre médicos, a investigada e testemunhas.