Médica cubana que atuou no programa Mais Médicos vive de doações e 'bicos' esporádicos como cuidadora de idosos na Bahia
21/03/2023 15:14 em Bahia

médica cubana Mariela Ambruster Almenares, 53 anos, vive de doações feitas por amigos e "bicos" esporádicos como cuidadora de idosos nas cidades de Nova Fátima e Nordestina, a cerca de 227 quilômetros de Salvador. Com a remuneração que consegue, paga as contas e ajuda a família, que mora no país em que nasceu.

A profissional nasceu na cidade de Santiago, em Cuba, e passou por dificuldades financeiras no interior da Bahia, após o fim do programa Mais Médicos. Ela trabalhou na atenção básica de Nova Fátima de 2013 até 2016, cidade com população estimada em 8.120 pessoas, em 2021, conforme os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Agora, para se manter na área da saúde, a cubana promove palestras gratuitas para jovens, adultos e idosos sobre prevenção a doenças e a importância da mamografia e dos exames preventivos e de próstata.

 

 

"Vivo graças a ajuda de amizades verdadeiras e posso dizer que não estou passando fome", disse a médica.

 

 

Desde o fim do programa, a cubana não conseguiu colocação na sua área de trabalho. A solução foi trabalhar como atendente de farmácias em duas cidades baianas: Feira de Santana e Nova Fátima.

Mariela Almenares também atuou como cuidadora de idosos, atividade que atualmente executa de maneira esporádica, como forma de conseguir dinheiro para pagar contas básicas e ajudar os filhos.

Cubana faz palestras sobre prevenção de doenças e importância de exames. — Foto: Arquivo Pessoal

Cubana faz palestras sobre prevenção de doenças e importância de exames. — Foto: Arquivo Pessoal

 

A cubana conta que já tentou o reconhecimento do diploma quatros vezes, através do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida), mas não obteve êxito.

"Um advogado está tentando resolver a situação do meu diploma, para que eu possa um dia atuar como médica aqui no Brasil, que é o que eu sou, o que sei fazer", contou.

Fora do Mais Médicos, os formados no exterior não podem atuar na medicina brasileira sem a aprovação no Revalida. Porém, no caso do programa federal, os estrangeiros participantes têm autorização de atuar no Brasil mesmo sem ter se submetido ao exame.

A resposta, de acordo com a profissional é sempre a mesma: "Eles falam que todas as vagas já foram preenchidas por brasileiros que fizeram faculdades em outros países”.

 

 

"Com essa resposta, a sensação que tenho é que todos os lugares no Brasil, na Bahia, têm médicos nos postos. Você sabe que realmente não é assim", desabafou.

 

 

Formada em medicina em 1993, Mariela Almenares completa 30 anos de experiência neste ano. Nos últimos sete anos, atuou fora da área, também com ajuda de amigos.

Uma delas chegou a pagar um curso para que ela se tornasse uma atendente de farmácia. No entanto, a cubana também enfrentou dificuldades para conseguir emprego na área.

 

 

 

Retomada do programa

 

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciaram, na segunda-feira (20), a retomada do programa Mais Médicos, criado em 2013 para ampliar o número de profissionais de saúde em áreas de baixo desenvolvimento econômico e no interior do país.

A iniciativa pretende expandir, de 13 mil para 28 mil, o número de profissionais em atendimento pelo país (veja aqui o que muda). O programa foi criado em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff, sob o mesmo nome. Atualmente, são 18 mil vagas: 13 mil profissionais estão atuando e 5 mil postos estão desocupados. 

 

O valor das bolsas continuará o mesmo oferecido atualmente pelo programa, de cerca de R$ 12,8 mil. Os médicos ainda recebem auxílio-moradia, que varia de acordo com a região onde atuarão.

 

 

Outras 10 mil vagas serão criadas por meio de contrapartida dos municípios, ou seja, o Ministério da Saúde vai fazer a seleção dos médicos, e os municípios arcarão com os custos. O maior problema identificado pelas prefeituras é para o preenchimento das vagas ociosas, e não apenas o custeio.

Atualmente, o governo federal ainda mantém vagas preenchidas de editais do programa Médicos pelo Brasil, criado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A iniciativa é paralela ao Mais Médicos, e não será afetada pelo relançamento do programa.

 

Vida na Bahia

 

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

 

Em novembro de 2018, o governo de Cuba informou que decidiu sair do programa social Mais Médicos, citando "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro à presença dos médicos cubanos no Brasil.

O país caribenho enviava profissionais para atuar no Sistema Único de Saúde desde 2013, quando o governo da então presidente Dilma Rousseff criou o programa para atender regiões carentes sem cobertura médica.

Após o anúncio do governo de Cuba, vários médicos do programa resolveram deixar o Brasil. Mariela Almenares tomou a decisão inversa e decidiu tentar manter o trabalho via Revalida, porque pretendia se casar com um brasileiro.

O plano de se casar com o namorado, assim como negativas do Revalida, não deu certo. O baiano pelo qual Mariela se apaixonou morreu antes dos documentos dela chegar de Cuba e o casamento ser concretizado.

Já a barreira entre ela e o acesso ao programa foi o diploma. Ainda em Cuba, a médica diz ter tido o documento queimado pelo ex-marido, que não aceitava o fim do relacionamento.

Apesar de ter conseguido a segunda via do diploma, esse documento não é considerado como original pelo Revalida.

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Médica cubana passou por dificuldades financeiras na Bahia após fim do programa Mais Médicos — Foto: Reprodução/Redes Sociais

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