Empresário suspeito de orientar funcionárias a colocar celular no sutiã para filmar voto na BA diz que áudio era uma 'brincadeira'; MPT investiga
19/10/2022 17:22 em Bahia

O empresário do setor do agronegócio Adelar Eloi Lutzque orientou funcionárias, no oeste da Bahia, a colocarem “o celular no sutiã” para filmar o voto na urna eletrônica e comprovar, posteriormente, que votaram conforme sua imposição, disse, nesta quarta-feira (19), que o áudio se tratava de uma "brincadeira". O caso de suposto assédio eleitoral é apurado pelo

 

Por telefone, Adelar Eloi afirmou à reportagem que não iria se posicionar sobre o caso. No entanto, na tarde desta quarta, ele publicou um vídeo em uma rede social onde falava sobre o ocorrido.

 

"Mandei esse coisa [áudio] para várias pessoas, mas não sei como foi para em outros lugares. Jamais ia fazer isso [demitir alguém]", afirmou.

 

 

Ainda no vídeo, o empresário disse que alguns de seus funcionários têm familiares que apoiam o candidato à presidência do partido oposto ao que ele vota.

"Eu tenho gente que está trabalhando aqui que a família toda é PT, eu botei para fora? Eu não, só disse que tem que analisar e tal, mas não por isso, não tem pressão nenhuma", disse.

Nesta quarta-feira, o g1 teve acesso ao áudio atribuído ao empresário. Em um trecho, Adelar afirma: "Tinham cinco [funcionários que não concordavam], dois voltaram atrás. Das outras 10 que estavam ajudando na rua, todos tiveram que provar, filmaram na eleições. Se vira, entrem com o celular no sutiã, que seja, vai filmar, se não, rua". 

O suspeito ainda revelou que duas mulheres, que não aceitaram a imposição, o procuraram para dizer que vão filmar os votos no segundo turno.

"Filmaram e provaram que votaram. Duas não queriam e estão para fora, hoje já estão falando ‘eu vou votar no Bolsonaro agora’. Então vota, primeiro prova que nós contratamos de novo”, afirmou.

 

Ameaças em mercados

 

No áudio, o empresário também admitiu que mandou ameaçar donos de mercados da cidade de Formosa do Rio Preto, que fica no oeste do estado.

“Nós temos que fazer isso logo, a gente ameaça nos mercados de Formosa. Mesmo a gente não comprando muito neles, os funcionários da gente todos compram no mercado”, disse.

O homem conta ainda que mandou colocar as ameaças em dez grupos de aplicativos de mensagens como moradores da cidade. "O senhor estava certo, ‘bota para fora logo’. Eu também, lá em casa, os que estavam lá em casa eu tirei já”.

 

O que diz o MPT

 

O MPT informou que a circulação de áudios em redes sociais nos quais ele confessa uma série de atos ilegais envolvendo a coerção de trabalhadores a votar em determinado candidato à Presidência foi identificada pelo órgão.

Afirmou também que expediu recomendação para que o empresário imediatamente se abstenha de manter ou reiterar as práticas ilegais.

A procuradora Carolina Ribeiro, que atua no caso, também encaminhou ofício ao Ministério Público eleitoral com o relato dos fatos para que possa também adotar as medidas cabíveis.

Apesar de ter que ser concedido o prazo, o MPT informou que já prepara modelo de termo de ajuste de conduta a ser apresentado ao autor das declarações ilegais para que seja negociado logo na primeira audiência.

Casos no oeste baiano

 

Este é o segundo caso materializado por meio de provas que o MPT investiga nas eleições de 2022 no oeste baiano. A região é conhecida pela forte atividade de produção de commodities agrícolas e concentra propriedades rurais com intensa produção de grãos.

Outros seis casos também estão sob análise do órgão, que contabiliza somente na Bahia nove denúncias de assédio eleitoral.

De acordo com o MPT, no país esse número atingiu a marca de 419 casos, em um volume muito maior do que na última eleição presidencial, que ficou em 212.

Ministério Público do Trabalho (MPT) — Foto: Divulgação

Ministério Público do Trabalho (MPT) — Foto: Divulgação

 

Primeiro caso no oeste da Bahia

Em setembro deste ano, a empresária ruralista Roseli Vitória Martelli D'Agostini Lins assinou acordo com o Ministério Público do Trabalho, onde se comprometeu a não praticar atos de incitação ao assédio eleitoral.

Um inquérito foi aberto depois que ela postou um vídeo orientando que agricultores “demitam sem dó” os funcionários que votarem em Lula, candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Roseli Vitória é de Luis Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. Ela também teve que fazer uma retratação pública, nas redes sociais, e custear uma campanha de esclarecimento. Essa campanha será veiculada emissoras de rádio da região onde ela mora, e também na capital.

Na rede social, Roseli Vitória se apresenta como "aposentada, conservadora, avó de dois meninos maravilhosos, entusiasta pelos rumos que o Brasil está trilhando". Em uma das postagens, feita no dia 26 de agosto, Roseli orienta os colegas ruralistas:

 

 

“Façam um levantamento. Quem for votar no Lula, demitam, e demitam sem dó, porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também”.

 

 

Na época da publicação, o g1 procurou a empresária, mas não obteve um posicionamento. O MPT também designou a coordenação estadual de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho e a chefia da regional baiana para dar suporte à atuação neste caso.

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