"Eu tentei sair, tentei me explicar a todo momento. Tentei conversar, mas ele estava com a frieza. Ele sorria para mim e me agredia demais com palmatória, murros. A todo momento era só agressão. Eu chorava muito e pedia para ele não faz isso. Ele sorriu e disse que eu ia passar as coisas que os negros passaram [na escravidão]. Foi muito humilhante. Ainda me colocaram uma saia".
Antes das queimaduras, os patrões ainda colocaram um pano na boca de William, para servir como mordaça e abafar os gritos de dor do jovem.
"A todo momento não vi arrependimento no olhar dele, eu vi o querer fazer toda essa situação que ele fez comigo. Ele queimava com calma para eu sentir a dor. Eu gritava muito, apesar de eu estar com o pano a boca, para não fazer zoada, para não chamar atenção. Ele me queimava devagar, com aquela crueldade, ainda falando que não queria estar na minha pele".
Para o delegado que está à frente do caso, Willian Achan, não há dúvidas de que houve a prática da tortura contra os jovens. Porém, ele considera que um pedido de prisão deve ser emitido somente quando a polícia estiver com mais provas do crime.
Um fator relevante para não pedir a prisão no momento, segundo o delegado, é o fato de um dos suspeitos ter se apresentado à polícia e se mostrar disposto a contribuir com as investigações, sem risco de fuga. O segundo suspeito, no entanto, até a manhã desta terça-feira (31), não havia aparecido na delegacia
"Eles ficaram algum tempo trancafiados, sofreram agressões e outros tipos de situações mais graves, com queimaduras, mordaças, teve mãos e pés amarrados. Então, isso foi uma crueldade bem acintosa e que justifica a aplicação da Lei da Tortura", detalhou o delegado.
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou ao g1 que aguarda a conclusão do inquérito, para oferecer denúncia à Justiça. Já o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu o próprio inquérito para investigar os empresários.
De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a tortura é um crime hediondo e inafiançável, ou seja: não cabe indulto ou liberdade provisória. Para o delegado Willian Achan, não há dúvidas de que houve a prática da tortura contra os jovens.
Ameaças de morte e 'tribunal do crime'
O crime foi cometido na primeira quinzena de agosto, mas a história só foi denunciada à polícia no dia 26, porque as vítimas foram ameaçadas pelos homens para não prestar queixa, e ficaram com medo. Além das agressões, os investigados filmaram a situação e expuseram na internet.
Uma das vítimas, Marcos Eduardo Serra, foi a primeira a procurar a delegacia. Ele trabalhava no local há cerca de um ano, até as agressões serem praticadas. Nas imagens, Marcos aparece sentado, recebendo pauladas nas mãos.