Esquema de pirâmide: 1ª vítima a denunciar investigado na BA 'investiu' mais de meio milhão de reais e teve carro de luxo alienado
06/09/2021 15:07 em Bahia

A primeira vítima a denunciar Henrique Sepulveda, estudante de medicina investigado por comandar um esquema de pirâmide em Jequié, no sudoeste do estado, conversou com o G1 nesta segunda-feira (6). Henrique é suspeito de causar prejuízos de mais de R$ 7 milhões a ao menos 150 pessoas.

 

Por medo de represálias, o homem pediu ao G1 que omitisse o nome dele. Além do golpe das aplicações, ele também contou que Henrique alienou, junto a uma empresa financeira, o carro dele, um veículo de luxo no valor de R$ 140 mil. O caso foi registrado em delegacia.

"No início de março, ele me abordou para mostrar o projeto. Inicialmente eu rejeitei, daí então ele me fez uma proposta tentadora, de 2% fixo ao mês. Era como se fosse um empréstimo e não um investimento. Poderia tirar o capital em 3 meses", relatou o homem.

 

"Ele ostentava uma vida de luxo, carros e festas. Meus amigos tinham montantes grandes com ele também, então decidi colocar R$ 550 mil".

 

G1 não conseguiu o contato da defesa de Henrique. Ele já prestou depoimento à polícia e deve ser ouvido novamente nesta semana. Outros clientes lesados nas negociações também estão sendo ouvidos, à medida que os casos estão sendo registrados.

 
Henrique Sepulveda enviava comprovantes falsos de transferência para a vítima — Foto: Arquivo pessoal

Henrique Sepulveda enviava comprovantes falsos de transferência para a vítima — Foto: Arquivo pessoal

Ao final do segundo mês da suposta aplicação financeira, a primeira vítima do golpe contou que começou a perceber alguns comportamentos estranhos em Henrique, além de indícios de que ele não tinha dinheiro ou que a empresa de investimentos dele havia quebrado.

"Foi aí que eu solicitei a retirada do dinheiro e ele começou a inventar desculpas. Dizendo que a corretora não estava permitindo que ele fizesse o saque, mas que ele iria resolver o quanto antes. Até print [captura de tela] de conversa com os assessores da corretora ele apresentava", detalhou.

 

"Ele ficou me enrolando por 30 dias, até comprovante falso de TED [transferência eletrônica] ele me mandou. Depois que a bomba estourou, descobri que ele havia feito o mesmo com outras pessoas".

 

O homem contou que, depois de muita pressão, Henrique decidiu revelar a situação e falou que a empresa havia quebrado. 

"No início foi um susto, mas depois tentei entender o que havia acontecido e fazer uma negociação com ele. Afinal, ele afirmava que eu era o maior cliente dele, e que o montante perdido não era tão grande".

 

"Após 50 dias de negociação, ele sempre prometendo mandar algum dinheiro, mandando sempre comprovantes falsos, decidi expor a situação nas redes sociais".

 

 

Foi a partir dessa decisão que outros investidores e pessoas que também pretendiam investir ficaram sabendo que se tratava de um golpe. "Foi um espanto ver que ninguém sabia da situação. Pessoas me chamavam no Instagram para dizer que ia colocar dinheiro nos próximos dias. Ou seja, ele ia lesar cada vez mais pessoas e o golpe seria ainda maior".

Henrique Sepulveda enviava comprovantes falsos de transferência para a vítima — Foto: Arquivo pessoal

Henrique Sepulveda enviava comprovantes falsos de transferência para a vítima — Foto: Arquivo pessoal

Com relação à primeira vítima, além do prejuízo direto pelo dinheiro supostamente aplicado, o caso foi agravado porque Henrique também alienou um carro de luxo.

"Ao perceber que eu iria trocar de carro, ele me abordou e pediu preferência na compra. Isso foi praticamente na mesma época que investi o capital. Ele me pediu o DUT [documento único de transferência] assinado, alegando que era exigência do banco. Semanas se passaram e nada do dinheiro cair na minha conta. Ele sempre inventava uma desculpa".

"Então decidi vender o carro para outra pessoa. Ao chegar no despachante, percebemos que o carro estava alienado por uma financeira", lembrou.

O homem então descobriu que o financiamento havia sido feito no nome da namorada de Henrique, Catiele Souza Mota, que também operava o capital dos investidores. Catiele foi acionada pela polícia e deve prestar depoimento ainda nesta semana.

 

"Ele deu um jeito de receber o dinheiro do meu carro na conta dele, e não me repassou nada. No depoimento [à polícia] ele assumiu essa prática de roubo e disse que resolveu investir o dinheiro do carro na empresa dele. Eu quero justiça! Estamos indignados com a situação".

 

"Não é possível que um indivíduo desse, que deu um rombo de 10 milhões de reais, saia dessa como um cidadão de bem. Ele merece cadeia por todos os sonhos que ele roubou".

 

Henrique pode responder por estelionato, crimes contra a economia popular, contra o mercado de capitais, contra a ordem econômica e contra o Sistema Financeiro Nacional.

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