No novo depoimento que prestou à polícia, a babá Thayná Oliveira Ferreira disse que assim que soube das lesões de morte de Henry, "logo associou às agressões" que o vereador Dr. Jairinho cometia contra o menino. Ela admitiu ter mentido na primeira vez que foi ouvida pela polícia por medo do que Jairinho, padrasto de Henry, tinha feito contra a criança e do que poderia acontecer com ela.
Ela diz que se sentiu "intimidada" durante uma conversa com Monique Medeiros, mãe de Henry, que pediu, de forma "impositiva", que Thayná dissesse à polícia que nunca tinha visto ou ouvido nenhuma agressão à criança e que omitisse as brigas que presenciou envolvendo o casal.
Segundo a babá, a mãe do menino também pediu para que ela apagasse todas as mensagens que trocaram pelo celular sobre as agressões.
Thayná contou à polícia que o encontro com Monique aconteceu alguns dias após a morte do menino, no escritório do advogado do casal, e que foi marcado por Thalita, irmã de Jairinho.
A babá foi ouvida por mais de 7 horas na 16ª DP (Barra da Tijuca). Ela admitiu que sabia das agressões e falou que o próprio menino relatou tudo à mãe por chamadas de vídeo. Ao saber sobre o que Henry havia contado, o vereador Dr. Jairinho teria ficado agressivo.
Ela disse que começou a trabalhar na casa de Monique e Jairinho no dia 18 de janeiro de 2021 e que o casal brigava com frequência.
Falou ainda que presenciou, ao menos, três situações anormais envolvendo a criança, e que ao dar banho em Henry no dia 12 de fevereiro viu que seu joelho estava roxo e que a criança mancava.
Confira alguns trechos do depoimento de Thayná:
No dia 2 de fevereiro, quando Monique estava no futevôlei, o menino começou a chamar pela mãe em seu quarto e Jairinho foi até o seu encontro e o chamou de mimado e o levou para conversar no quarto do casal.
Henry e Jairinho ficaram 30 minutos de portas fechadas, enquanto ela permaneceu no quarto do menino, sem ouvir nenhum barulho. O menino, segundo ela, não parecia ter chorado, mas que quando perguntou o que tinha acontecido, Henry disse apenas que “tinha esquecido e estava com soninho”.
Monique voltou então para casa e Jairinho saiu em seguida. A mãe, segundo a babá, perguntou a ela se ele havia dito ou ouvido algo e falou que iria procurar saber o que tinha acontecido.
Nesse mesmo dia, segundo Thayná, após a escola e já na brinquedoteca do prédio, Henry não quis brincar com as outras crianças e disse que estava com dor no joelho.
A babá falou que não associou a dor no joelho ao episódio, mas disse que relatou o fato à mãe do menino e que esta disse que ele poderia estar inventando.
No dia 12 de fevereiro, Monique saiu por volta das 14h30 para ir à academia e fazer as unhas. Uma hora depois, Jairinho chegou de surpresa em casa. Henry o abraçou e este o chamou dizendo que queria mostrar uma coisa que havia comprado.
Os dois ficaram então trancados no quarto do casal. A babá chamou o menino, mas este não respondeu. Enviou então mensagens à mãe da criança. Que ao sair do quarto, cerca de 10 minutos depois, Henry foi em sua direção e Thayná o pegou no colo.
O menino, segundo ela, ficou “amuadinho”, sem falar nada. Em seguida, o menino reclamou de dor no joelho e disse que tinha levado uma "banda" e chutes de Jairinho e que "toda vez faz isso".
A babá falou que ao relatar o episódio à mãe, esta sugeriu que ela desse um banho no menino para que ele pudesse relaxar. Foi então que viu um roxo no joelho do menino e percebeu que ele estava mancando. Thayná disse ainda que enviou uma foto do joelho do menino para a mãe.
A mãe, então, pediu para falar com Henry por chamada de vídeo e o menino contou sobre as agressões sofridas.
A babá disse que foi orientada por Monique a apagar as mensagens para evitar que Jairinho tivesse acesso ao conteúdo. Ela diz que apagou algumas mensagens, mas não a conversa inteira.
Disse que Jairinho voltou ao apartamento em seguida, visivelmente exaltado, e perguntou à Henry: "O que falou pra sua mãe? Você gosta de ver sua mãe triste com o tio? Você mentiu pra sua mãe?".
O menino, segundo Thayná, respondia acuado que não havia feito nada.
No novo depoimento, a babá disse que a avó materna sabia das agressões. Segundo ela, uma vez a mãe de Monique, Rosangela, veio lhe perguntar sobre o que havia acontecido com o neto, e Thayná diz que contou tudo à avó de Henry.
Ela diz que contou a avó que Henry estava mancando, com dor na cabeça e com um roxo, porém não quis insistir muito no assunto, porque ficou com medo de Monique achar que ela estava fazendo "fofoca" para a mãe.
Ainda segundo Thayná, a avó questionou se existiria alguma possibilidade de Henry ter mentido e ela afirmou dizendo que não, até mesmo porque as marcas dos machucados.
Empregada também mentiu, diz babá
Thayná disse ainda que a empregada da casa, Leila Rosângela, a Rose, também mentiu. A polícia sabe que no dia 12 de fevereiro, quando o vereador Dr. Jairinho (expulso do Solidariedade) teria agredido o menino no final da tarde, as duas estavam dentro do apartamento.
Foi naquela tarde que Thayná mandou mensagens para Monique contando o que estava acontecendo e relatando as agressões, reveladas a ela pelo próprio Henry, depois que saiu do quarto de Dr. Jairinho.
No dia seguinte, 13 de fevereiro, Monique levou o filho ao Real D'Or, unidade pediátrica em Bangu, Zona Oeste da cidade.
A polícia quer esclarecer por que não há menção a essa ida ao hospital nos depoimentos de Monique, de Jairinho e da babá.