Mãe que cuida de três filhos com deficiência em SP transforma superação em livro.
12/11/2020 08:25 em Brasil

"Eu sou mãe de três meninos especiais". Essa é a forma como Rosana Nunes de Araújo, de 55 anos, se apresenta. Moradora de Santos, no litoral de São Paulo, ela tem cinco filhos, sendo três rapazes com deficiência. As necessidades deles fizeram com que ela deixasse o emprego para se dedicar integralmente a eles. A experiência também fez Rosana descobrir o amor pela escrita e lançar um livro contando sua história de superação. O livro "Hoje é só gratidão" reúne lembranças de anos de experiência de uma mãe que aprendeu como lidar com a síndrome de Down e a paralisia cerebral, em uma época em que havia pouca informação. "Meu filho foi muito excluído. Na época, quem tinha filhos como o meu escondiam em casa. Mas, fui diferente, desde o primeiro instante decidi que iria levar ele para todo lugar", relembra.

A trajetória da hoje escritora começou com o filho Lucas, de 30 anos. Ele foi diagnosticado com síndrome de Down, momento em que Rosana começou a pesquisar sobre a deficiência. Anos depois, ela teve Matheus, diagnosticado com paralisia cerebral por falta de oxigenação no parto. Ela resolveu se dedicar aos filhos e, com a ajuda do esposo, começou a busca por tratamentos e grupos de inclusão. "O médico disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas na minha vida caiu. O Matheus passou por 22 cirurgias, e depois descobri que ele não poderia andar", relembra Rosana. O terceiro filho com deficiência foi Vicente, jovem adotado por Rosana. O rapaz de 23 anos tem síndrome de Down, e é filho biológico de uma grande amiga da escritora, que morreu em um acidente. "Como eu não trabalhava, ele ficava comigo, e eu manifestei meu desejo de ficar com ele, decidi adotá-lo", conta a mãe. Após um ano e quatro meses em um processo de adoção, Vicente passou a fazer parte da família, com quem está há cerca de sete anos. Dentre os desafios enfrentados, ela acredita que um dos maiores era a dificuldade para encontrar tratamento para os filhos. Com uma rotina agitada, com apenas quatro horas de sono por dia, a escritora diz que houve momentos em que ela precisava priorizar o tratamento de um dos filhos. "Essa foi a parte mais difícil", comenta. Este processo durou anos, até que ela se mudou e pode ficar perto de centros de tratamento mais acessíveis.

Ao longo dos anos, Matheus começou a usar cadeira de rodas e se tornou mais independente, cursando uma universidade. Lucas passou a integrar grupos na cidade, assim como Vicente, que também pratica esportes e trabalha em um café. Com uma maior independência dos filhos, Rosana passou a ter mais tempo livre e decidiu buscar algo a que se dedicar. "No começo, alguém tinha que sair e alguém tinha que ficar. Meu marido continuou trabalhando e eu, que tinha uma renda menor na época, fiquei, e minha dedicação foi total aos meninos. Então, passei a pensar por onde iria recomeçar", relembra. A antiga produtora de teatro pensou, então, na escrita, e começou um processo de imersão para contar a própria história. Ela explica que toda a experiência se transformou em narrativa. A dificuldade para encontrar tratamentos em uma época em que médicos não sabiam da síndrome, as vezes em que ela ouviu que os filhos não viveriam muito e situações de preconceito se transformaram em livro. De forma positiva, ela resolveu passar os ensinamentos de anos para que as pessoas entendessem mais sobre seu universo. "[O livro] deu sentido a tudo que eu passei. Eu pude passar uma mensagem positiva, a minha mensagem positiva", diz emocionada. Sem pretensão, ela buscou um editor, e fez o lançamento de forma independente, vendendo praticamente todos os exemplares produzidos. Depois disso, Rosana decidiu se dedicar à escrita, e planeja outro livro.

"Tenho muitos planos. As pessoas se emocionaram, entraram em contato. Consegui passar minha mensagem, e tenho muitas ideias e projetos pela frente", comenta. Ela finaliza, explicando que o nome do livro representa tudo o que ela sente hoje, com a família. "Apenas gratidão, é só o que sinto hoje", finaliza Rosana.*G1 — Foto: Arquivo Pessoal

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