Automedicação com corticoide pode diminuir defesa do corpo e agravar complicações da Covid-19.
17/06/2020 16:39 em Brasil

Os principais riscos da automedicação com corticoides são a diminuição da defesa do corpo (imunidade) e a complicação de outras doenças já existentes ou até mesmo o surgimento de novas, alertam os especialistas. Em algumas situações, tomar corticoides sem receita pode até mesmo ajudar que o novo coronavírus se multiplique e ganhe força em sua "invasão" ao organismo. Uma pesquisa preliminar da Universidade de Oxford aponta que a dexametasona – um corticoide barato e de fácil acesso – é o primeiro remédio capaz de reduzir mortes por Covid-19 em casos graves. Mas os cientistas alertam que ele só foi usado em casos graves (pacientes intubados ou que estavam com apoio de oxigênio) e NÃO deve ser usado em pacientes  leves ou como forma de prevenção. Nesta quarta-feira (17), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e o diretor de emergências da organização, Michael Ryan, destacaram os riscos. "Essa droga é um anti-inflamatório muito, muito poderoso. Pode resgatar pacientes que estão em condição muito grave, quando os pulmões e o sistema cardiovascular estão muito inflamados. Ela permite, talvez, que os pacientes consigam oxigenar o sangue em um período muito crítico, ao rapidamente reduzir a inflamação em um período muito crítico da doença", esclareceu o diretor de emergências. "Não é uma prevenção. Na verdade, esteroides, principalmente esteroides poderosos, podem ser associados à replicação viral. Em outras palavras, eles podem facilitar a divisão e a replicação do vírus", disse Michael Ryan "Então, é excepcionalmente importante, neste caso, que essa droga seja reservada a pacientes gravemente doentes, que podem se beneficiar dessa droga, claramente. Isso é uma ótima notícia, mas é parte da resposta de que nós precisamos clinicamente. Oxigênio, ventilação, o uso de antivirais, o uso de esteroides – e achar uma combinação de terapias que nos permita salvar a maior quantidade possível de pacientes", explicou Ryan.

O médico intensivista Bruno Tomazini, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que podem ser graves as complicações da automedicação. "Na farmácia, por ela ser de fácil acesso, talvez a gente acredite que seja um anti-inflamatório comum. Não é. É um anti-inflamatório super potente que pode, em alguns pacientes, desde aumentar a concentração de açúcar no sangue, para alguns ele induz edema, retenção de líquido, hipertensão, e, acima de tudo, por ele diminuir a resposta do organismo a uma infecção, ele pode gerar um comprometimento do sistema imune", explica Tomazini. "Em estudos prévios, em outras doenças virais, como a influenza, a Mers e a Sars, alguns estudos mostravam que o uso de corticoide de maneira indiscriminada aumentava a replicação viral. Então se a pessoa usa no momento errado - que a gente acredita que seja quando a pessoa tem o quadro clínico leve -, isso pode de fato aumentar a replicação viral e piorar a situação mais para frente", diz o intensivista.*G1— Foto: Yves Herman/Reuters

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