‘Qualquer culto produz aglomeração’, diz Silas Malafaia após decreto de Bolsonaro.
27/03/2020 10:51 em Brasil

Após o presidente Jair Bolsonaro incluir atividades religiosas na lista de serviços que não devem ser interrompidos durante a pandemia do novo coronavírus, em decreto publicado nesta quinta-feira, líderes religiosos de diferentes credos reforçaram o pedido para que se evitem aglomerações. Nesta quinta-feira, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) recomendou ao governo estadual e à prefeitura do Rio a adoção de medidas para garantir a “suspensão de toda e qualquer atividade de cunho religioso que envolva aglomeração”. Desde a semana passada, o MP recebeu 36 denúncias de igrejas e locais de cultos de diferentes matizes que estariam  descumprindo as restrições no estado. O GLOBO percorreu, na tarde e no início da noite desta quinta-feira, alguns endereços que foram alvos das denúncias apresentadas ao MP, em bairros da Zona Norte do Rio e da Baixada Fluminense, mas não constatou a realização de cultos com aglomerações. As denúncias reunidas pelo MP ocorreram entre os dias 16 e 25 deste mês. A reportagem visitou mais de 20 endereços, incluindo igrejas católicas, pentecostais, neopentecostais e luteranas, e encontrou várias de portas fechadas. Os templos abertos, como a sede da Igreja Universal em Duque de Caxias, recebiam apenas poucos fiéis para fazer orações, e funcionários recomendavam assistir a cultos pela internet. Um pastor de uma igreja evangélica visitada pelo GLOBO em Irajá, na Zona Norte do Rio, afirmou que os cultos estão suspensos por conta de recomendações de autoridades. - (A volta dos cultos) Depende de uma mudança no decreto aqui do governo estadual, pode ser que aconteça. Talvez já tenha culto no domingo - afirmou o religioso. Um dos alvos do MP foi o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que seguia com cultos marcados na última semana - embora um decreto do governador Wilson Witzel, do último dia 16, tivesse ordenado a suspensão de eventos com aglomeração e atividades coletivas em locais fechados, sem mencionar explicitamente cerimônias religiosas. No dia 20, o desembargador de plantão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Sérgio Seabra Varella deferiu o pedido do MP para impedir cultos na igreja de Malafaia que descumprissem o decreto de Witzel. Apoiador de Bolsonaro, Malafaia disse ter orientado pastores a seguirem recomendações do Ministério da Saúde. Na quarta-feira, em entrevista coletiva, o ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que as igrejas poderiam abrir, desde que sem aglomerações. - O presidente não liberou os cultos. Ele reconheceu a importância da atividade religiosa dentro das orientações do Ministério da Saúde, que manda evitar aglomerações. Qualquer culto produz aglomeração - afirmou Malafaia. O pastor criticou, no entanto, supostas tentativas de fechamento de igrejas por parte de prefeitos e defendeu o argumento, já usado por Bolsonaro, de que "o caos social é pior do que o coronavírus". - Vai morrer gente pelo coronavírus? Vai. Mas se houver caos social, vai morrer muito mais. As igrejas são essenciais para atender pessoas em desespero, angustiadas, depressivas, que não serão atendidas nos hospitais - opinou. O cardeal Dom Orani Tempesta, arcebispo da Arquidiocese do Rio, também afirmou que manterá a suspensão de todas as missas com público, determinada no último dia 20. Para o departamento jurídico da Arquidiocese, o decreto de Bolsonaro, embora assegure a possibilidade legal de abertura de templos e outros locais de culto, não modifica as recomendações do cardeal pelo fechamento de igrejas, que vieram como consequência dos pedidos de isolamento social e de evitar aglomerações. - Estamos mantendo a celebração da missa por meios virtuais, para as pessoas que estão em casa. Muitas paróquias estão abertas somente para  arrecadação de alimentos e material de limpeza, para prestar assistência à população, mas com toda a prudência necessária para não levar nem trazer o vírus - afirmou Orani. Além da recomendação na Igreja Católica, lideranças das principais denominações evangélicas também têm orientado, em suas redes sociais, que os fiéis acompanhem cultos virtuais. O decreto de Bolsonaro tampouco alterou as orientações do Conselho Espírita do Rio (CEERJ), que havia recomendado a não abertura de casas espíritas no estado. Segundo o diretor da CEERJ Adriano Barros de Almeida, segue valendo a orientação para que se evitem reuniões públicas. - Além disso, orientamos as casas espíritas que desejarem manter reuniões mediúnicas a procurar fazê-las em locais arejados, evitando proximidade entre os participantes e também a presença de pessoas com mais de 60 anos - afirmou Almeida.*G1

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