Além da criação de pontos de pesca e de mergulho em Fernando de Noronha, o presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, afirmou que os cruzeiros vão voltar ao arquipélago, composto de 21 ilhas. O governo de Pernambuco alertou que essa liberação vai causar impactos na infraestrutura do local. A temporada de navios em Noronha foi encerrada em 2013. A volta dos cruzeiros foi mencionada por Machado Neto em um vídeo em que ele aparece ao lado do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), durante uma visita na sexta (28) ao arquipélago, reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na gravação, que circula pelas redes sociais, o senador afirmou que eles estão “desatando os nós dessa legislação para permitir que esses segmentos [cruzeiros e mergulhos em recifes artificiais] também sejam muito melhor explorados pelo nosso país”. “Eu não tenho dúvidas que os cruzeiros vão voltar a Noronha num curto espaço de tempo. A decisão final é do Ibama, o ministro do Meio Ambiente vai ver a parte jurídica para poder liberar o mais rápido possível”, disse Machado Neto, em entrevista ao Blog Viver Noronha, na segunda-feira (2). O G1 procurou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) para questionar se há previsão da liberação de cruzeiros, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, o governo do estado recebeu “com surpresa” a possibilidade de licenciamento de cruzeiros. Segundo ele, o assunto não foi levado ao Conselho Gestor, que é composto pelos governos federal e estadual, além de órgãos de proteção ambiental e empresários de Noronha.
Como Noronha tem capacidade limitada para receber os visitantes, a superlotação do arquipélago é vista com preocupação. “O licenciamento de um cruzeiro desse tem que levar em consideração, por exemplo, que hoje o plano de estudo de capacidade de carga prevê 85 mil pessoas em Noronha por ano. No entanto, isso já está sendo trabalhado em mais de 100 mil pessoas”, afirmou Bertotti. Os impactos, segundo o secretário, vão além de comprometer a preservação ambiental do arquipélago e também devem ser sentidos na infraestrutura. “Fernando de Noronha é um patrimônio natural que não tem água potável, por exemplo. O governo do estado é que provê a infraestrutura de dessalinização e transporte de água, se necessário”, declarou. “Ao se pensar em fazer uma discussão desse tipo, você leve primeiro em consideração que já se tem um volume a mais do que está previsto no estudo de capacidade e carga, que foi feito, inclusive, pelo governo federal. E também uma lógica de discussão no conselho gestor da área de proteção ambiental, para discutir que tipo de impacto vai ter na natureza, na infraestrutura e para os moradores e turistas que chegam na ilha hoje”, afirmou Bertotti. O administrador de Fernando de Noronha, Guilherme Rocha, afirmou, nesta quarta-feira (4), que é preciso pensar na sustentabilidade das ações. “Não podemos permitir pensar em retroceder no tempo e ir de encontro à legislação ambiental que foi feita para proteger o patrimônio ambiental da ilha de Fernando de Noronha”, disse. O G1 procurou a Embratur sobre as declarações do secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco e do administrador de Fernando de Noronha, mas não obteve resposta até o momento.*G1 — Foto: Fábio Tito/G1