Publicitária enfrenta câncer metastático há 5 anos viajando pelo mundo: 'meio de vida', diz.
05/02/2020 08:22 em Brasil

Como receber a notícia de um câncer metastático, que não tem possibilidade de cura? Para muitos, o diagnóstico é considerado como uma sentença de morte, mas quando recebeu essa notícia em 2014, aos 40 anos de idade, a publicitária de Araraquara (SP) Fabiana Azzolini resolveu que queria viver a vida e conhecer o mundo. Ela tem um tumor estromal gastrointestinal (GIST, na sigla em inglês), um tipo de câncer raro. Na época, os profissionais da área médica estimaram que ela teria um ano e meio de vida “numa boa perspectiva”. Desafiando o prognóstico, Fabiana está – em suas próprias palavras – “fazendo hora extra há quatro anos” e de uma forma intensa, enfrentando as batalhas do corpo, da mente e com a burocracia que cerca um paciente com a sua doença. Ao mesmo tempo, ela tenta viver o melhor possível de cada dia. Ela conversou com o G1 na terça-feira (3), Dia Mundial de Combate ao Câncer, e contou as batalhas que vive e como encontra forças para lutar contra a doença. Por conta da doença, Fabiana já retirou tumores do estômago, perdeu parte do fígado e, há uma semana, retirou o útero e os ovários. Em contrapartida, passou a apreciar mais os sabores e os lugares e começou a comemorar muito mais os seus aniversários. Atualmente, ela mora com suas duas cadelas - Barthô e Aretha - em Ribeirão Preto para ficar próxima ao tratamento no Hospital das Clínicas da cidade e no Hospital de Amor, em Barretos. A rotina é dividida entre hospitais e laboratórios e as saídas com os amigos para bares, shows e festas e, sempre que possível, com viagens, que ela faz desafiando médicos e a família. “Eu faço da viagem um meio de vida. O que me faz viver mais é programar uma viagem e seguir firme naquele objetivo de ficar viva até ela chegar e eu viajar.”

 

Diagnóstico

A decisão de viver a vida o mais intensamente possível foi tomada no instante que recebeu a notícia de que tinha metástase. O diagnóstico aconteceu no auge de sua carreira como publicitária. Até então, ela gostava de viajar, mas pouco fazia devido ao forte envolvimento com o trabalho. Apenas uma vez havia viajado para o exterior. Bem diferente dos últimos anos em que, além de viajar pelo Brasil, foi para a Europa, Chile, Argentina, conheceu o deserto do Atacama e a neve.

Os sinais começaram um ano antes do diagnóstico. Em 2013, Fabiana procurou atendimento médico por conta de crises de asma, mas os exames nada apontavam. Como também tinha vômitos, achou que era uma gastrite causada pelo estresse do trabalho e deixou de lado até ter crise mais grave de asma e procurar um pneumologista. Ele pediu uma tomografia, que mostrou uma pequena mancha no pulmão. “Ele disse que pelos anos de experiência que tinha, aquilo não era nada”, conta. Por conta da insistência da publicitária, o médico pediu uma ressonância que constatou que realmente a mancha não era no pulmão e tratava-se de uma cicatrização na costela, mas o mesmo exame mostrou outra mancha, desta vez no fígado.

Mais uma vez o médico, dessa vez um gastroenterologista, disse que não era grave e que se tratava de esteatose (acúmulo de gordura), e pediu uma endoscopia para avaliar uma possível gastrite. O exame, por sua vez, apontou uma hérnia no esôfago que deveria ser operada. Por conta dos compromissos do trabalho, Fabiana adiou a cirurgia, mesmo com a piora dos sintomas, por quase oito meses. Na mesa de operação, o cirurgião não conseguiu passar a cânula com a câmera para fazer a vídeolaparoscopia, por conta de uma massa próxima ao estômago e resolver operar, encontrando um tumor que estava atrás do estômago. Essa foi só a primeira série de exames e cirurgias que Fabiana ia passar desde então. “No resultado da biópsia, o médico disse que o tumor era maligno, mas ‘bonzinho’. Eu apertei a tecla SAP e entendi o que eu quis. Ele queria dizer que o tumor não crescia rápido, eu entendi que era benigno”, conta. Mas não era e ela teve que seguir para um tratamento oncológico. Tão cruel quanto o diagnóstico é o medicação do câncer e Fabiana começou a sentir os efeitos da quimioterapia oral que tomava diariamente. “Foi um horror. A minha tireoide parou de funcionar, eu comecei a ter tontura, vomitar, passava muito mal no começo. Abriu uma hérnia na minha barriga enorme por conta dos vômitos”, disse.

Por conta da hérnia, ela foi novamente para a cirurgia, na qual os médicos encontraram novamente o tumor. Além disso, a mancha do fígado foi extraída e a biópsia apontou também ser um tumor. Com o ressurgimento do câncer, ela mudou a quimioterapia e foi para uma mais violenta ainda. “Eu fiquei oito meses tomando, mas eu mal podia andar, eu fiquei todinha amarela, meus pelos do corpo ficaram todos brancos, bolhas nas mãos e nos pés, feridas na boca, eu não conseguia comer, eu chorava muito porque eu falava que não ia sair daquilo. Foram oito meses andando de muleta, um sofrimento, eu definhei”, lembra. A mudança veio oito meses depois quando ela foi diagnosticada com metástase no fígado, ou seja, a quimioterapia, apesar de violenta, não estava fazendo efeito.

“Foi meio desesperador porque não tinha outra droga. Tinha, mas que estava para ser aprovada nos EUA. Por protocolo médico voltei para a quimioterapia anterior com dose dobrada. Neste momento deram um ano e meio de vida. Aí eu resolvi que ia viver. Eu falei ‘doutora, já que eu vou morrer, enquanto eu não morro eu posso viver, né?” Ela então resolveu viver a vida do seu jeito, mesmo contra a vontade da família e dos médicos. "A minha família me colocou numa redoma de vidro, não me deixava fazer nada. Eu queria beber, queria sair, queria viajar. Passado um tempo a médica achou que eu estava em negação e me mandou para psicóloga. Mas não era negação, eu já tinha entendido que estava doente, eu só não vou viver como uma moribunda, eu me recuso porque a única coisa que vai me manter viva é viver e comecei a viajar para horror da minha família”, conta. As viagens não são fáceis, mas ela não se abala e mal chega de uma viagem começa a programar outra. "Não tenha uma viagem que eu faça que eu não passe perrengue. Eu já passei em alfândega com mala carregada de remédios, inclusive líquido. Eu volto de todas as viagens de cadeira de rodas com assistência médica. Eu me arrebento inteira na viagem, caio, choro de ódio,mas não deixo de ir", afirma.*G1 — Foto: Arquivo pessoal

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