Mulher que socorreu motorista em acidente com Boechat consegue médico para tratar doença rara: 'meu 2020 vai começar maravilhoso'.
20/12/2019 08:58 em Brasil

Para a vendedora Leiliane Rafael da Silva, 28 anos, 2019 pode ser definido como complicado e sem muitas perspectivas, mas o ano foi passando e logo em fevereiro a vida dela mudou radicalmente. Ela ajudou a socorrer o motorista de um caminhão atingido pelo helicóptero em que estava o jornalista Ricardo Boechat, na Rodovia Anhanguera. Além do jornalista, o acidente matou o piloto do helicóptero. Hoje, ela projeta em 2020 bem diferente. Leiliane resumiu o seu ano: "Eu achei que o ano de 2019 já tinha começado complicado, eu já estava sem trabalhar, e sabia do problema de saúde, pelos hospitais que eu passava, diziam que eu tinha tumor cerebral. Já tinha sido internada e as pessoas achando que eu ia morrer, me deixaram 30 dias no hospital internada, dada como morta." Em novembro de 2018, Leiliane recebeu o diagnóstico de Malformação Arteriovenosa (MAV), pouco mais de um mês após nascer sua filha Lívia, hoje com 1 ano. "Estava bem mal. Então, o ano pra mim já tinha começado super ruim. O acidente aconteceu em fevereiro, então eu já sabia que eu tinha um problema de saúde que era bem sério. Eu achava realmente que eu ia morrer. De tanto o pessoal falar, com tantos laudos diferentes que eu tinha, então, eu estava meio perturbada." Depois de se tornar popularmente conhecida como "Mulher Maravilha" quando um vídeo em que aparece tentando abrir a porta da boleia do caminhão em chamas e todo retorcido, ela caiu nas graças da população, ficou famosa, mas como ela mesmo diz: "Não fui isso que eu busquei".

Mas o efeito de ter se tornado "famosa" foi ter ganhado uma nova chance de viver. "Depois disso eu consegui o médico. Vi que minha doença tinha uma luzinha lá no fim, que era um tratamento caro e eu não teria chance mesmo, eu teria morrido mesmo. Sinceramente eu teria morrido. Se eu não tivesse passado num acidente, se eu não tivesse conseguido esse médico, um hospital, eu teria morrido. Porque hoje em dia ninguém consegue juntar R$ 178 mil para fazer uma cirurgia."

Exatamente um ano após sua vida ter mudado por completo, Leiliane irá passar por uma nova transformação. A cirurgia delicada que precisará fazer no cérebro está marcada para fevereiro de 2020, o processo operatório deve durar cerca de 18 horas. "Meu 2020 vai começar maravilhoso. Eu posso perder o emprego, posso sair da casa, pode acontecer qualquer coisa, só de eu estar operada eu já vou estar feliz. De resto, é 100% de chance que abre para tudo, só de você saber que você se curou de uma doença que você podia ter morrido, com três crianças pequenas, sem você saber o que aconteceria depois. Eu ganhei minha vida de novo." A vida de heroína às avessas de Leiliane teve basicamente um cenário fixo em 2019: O hospital. "De lá pra cá, depois que aconteceu o acidente foi uma loucura. Faço tratamento médico, me interno uma vez por mês, fico sete dias de UTI. De resto é isso, família, casa, trabalho, nada demais.

"Eu já embolizei, que é um procedimento antes da cirurgia, três vezes. Essa embolização o que ela é? Fecha um pouco as veias que estão entupidas para não ocorrer um sangramento na cirurgia principal. Eu ia embolizar uma quarta vez, mas o médico que faz parte da equipe que me trata no Hospital Beneficência Portuguesa sofreu um enfarto fulminante, então, não consegui embolizar a quarta vez antes da operação sem um risco tão grande de hemorragia, porque se me der uma hemorragia na hora pode ser fatal."

Segundo os médicos, os pacientes com MAV não podem ter nenhum tipo de esforço físico. "A gente pode fazer uma comparação assim bem engraçada, que a gente não pode fazer força nem para ir ao banheiro. Então, qualquer coisa que passe daquilo já é considerado por eles um absurdo, porque é um risco que a gente tem iminente, como a gente mesmo brinca, que a gente tem uma bomba relógio na cabeça. A gente pode fazer um esforço no banheiro, a gente não pode lavar uma louça, não pode pegar numa vassoura, e de repente você tem uma convulsão, de repente você apaga, de repente você tem um sangramento, você pode aparecer numa mesa cirúrgica, pode acordar dias depois." Mesmo sem poder ter grandes atividades físicas, o que inclui subir na boleia de um caminhão para socorrer uma pessoa, Leiliane não consegue ficar parada em casa, como é a recomendação médica. "Eu levanto cedo, pego ônibus, eu pego Metrô, eu vou trabalhar, eu volto, eu vou na feira, eu tomo sol, eu vou na praia, eu passeio com meus filhos, eu saio com minhas crianças em tudo quanto é lado. Eu não tenho medo de viver. Se tiver de estourar, o médico brinca: Se ela fosse estourar agora já tinha estourado. Porque eu faço acho que tudo que eles não gostariam que eu fiz." A vontade de ajudar as pessoas levou Leiliane a fazer um curso de socorrista, mas não imagina o risco que estava correndo. "O médico ficou sabendo que eu tava fazendo curso de socorrista e perguntou como era esse treinamento, se era teórico, aí eu falei que a gente lê bastante, mas que é mais na prática, a gente faz rapel, a gente puxa maca. Ele disse: você tá doida? Assim, não é uma maca de plástico que você põe nas costas e faz rapel, a gente faz rapel com a maca e uma pessoa lá, imitando a situação real que a gente passaria em qualquer outro ambiente na rua. Aí ele não deixou eu terminar o treinamento."*G1— Foto: Reprodução/Redes sociais e Divulgação/Angelo France

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