Apesar da cena ser corriqueira, mãe nunca se acostuma. Há poucos dias, a dona de casa Jescika Marques dos Santos Nogueira, 28 anos, de Fortaleza, no Ceará, resolveu fazer um desabafo nas redes sociais. Ela postou a foto da filha, Yasmin, 5, sentada na calçada, em frente a sua casa, chateada por ter sido rejeitada por outras crianças. "Meu coração chora quando vejo ela de cabeça baixa, triste, querendo chorar", disse a mãe. Yasmin é uma menina autista e, segundo a mãe, em um grau elevado. "Ela é autista não verbal. As outras crianças perguntam se ela é muda, eu digo que não. E como ela não sabe falar, eles se afastam. Quando ela vê outras crianças, fica muito alegre começa dançar, quer abraçar... Ela é muito carinhosa, mas não sabe se expressar direito e as crianças não entendem. Minha filha já tem uma certa dificuldade de interagir com outras crianças e, quando ela vai atrás para brincar, elas fogem. A gente mora em um condomínio e, esses dias, ela foi abraçar um menino e ele a empurrou", conta. Segundo Jescika, a filha faz tratamento com neuropediatra, fonoaudiólogo e psiquiatra. "Ela toma quatro tipos de medicamentos, inclusive pra dormir", completa. Além de Yasmin, ela é mãe de Lucas, 2 anos, que também é autista, porém, em um grau mais leve. "Tenho medo que isso se repita com meu filho mais novo. O que a gente mais luta é por inclusão e, muitas vezes, os próprios pais não ensinam os seus filhos a lidar com crianças com limitações", afirma. "Uma vez, ela estava brincando na nossa sala, dentro de casa. Alguns meninos pararam na janela, que estava aberta, e ficaram olhando pra ela. Yasmin ficou empolgada, feliz, do jeito dela, e eles jogaram álcool nas mãos da minha filha. Imediatamente, ela começou a chorar. Fico preocupada. Se isso acontece dentro da minha casa, imagina lá fora", reflete. "Sei que essa exclusão vai acontecer sempre, mas sofro muito com isso. Choro quando vejo, mas nunca na frente dela, pois preciso me manter forte para que ela aprenda a ser também. Tenho muito medo, pois não vou estar aqui pra sempre para protegê-la", desabafa. Mas Jescika conta que não é assim em todos os lugares. Na escola, a pequena Yasmin é respeitada e amada. "Lá, graças a Deus, a professora ensina as crianças e eles entendem e amam minha filha. A Yasmin está sempre em primeiro lugar: na hora de brincar, comer, ir ao banheiro... Mas já estou com medo, pois, logo, teremos que mudá-la de escola e será um novo desafio", conta. "Por enquanto, aqui no bairro, enquanto eles não querem brincar com ela, eu volto a ser criança e brinco com a minha filha. Queria muito que os pais conscientizassem seus filhos a ter mais empatia", finaliza.*G1