Mariana: mulher que abortou na tragédia luta há 4 anos para que bebê seja reconhecido vítima.
29/10/2019 10:14 em Brasil

Ir ao distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, quatro anos após uma das maiores tragédias do Brasil, é como voltar a 5 de novembro de 2015. Os escombros de muitas casas, com móveis, roupas e objetos pessoais, permanecem como foram deixados, encobertos pela lama de rejeitos que, na tarde daquele dia, vazou da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, e matou 19 pessoas. Memórias deste dia permanecem vivas entre aqueles que ainda tentam reconstruir a vida revirada pela lama. A ferida de Priscila Monteiro Barros, de 31 anos, continua aberta. Ela sofreu um aborto enquanto lutava contra a avalanche de lama que invadiu a casa onde estava e devastou o distrito de Bento Rodrigues. Apesar de ter comprovação de sua gravidez, a dona de casa ainda luta pelo reconhecimento do filho como vítima da tragédia.

"Meu bebê era uma vítima da Samarco. Hoje eu não tive o prazer de amamentar. Nem o prazer de conhecer nem por ultrassom. De escolher um nome. Eles me impediram isso. (...) Eles fizeram proposta de acordo e falaram para eu esquecer o aborto, mas isso eu não vou fazer", disse. No mesmo dia do rompimento, ela completava 28 anos. Estava ansiosa, esperando pelo sogro, que a levaria ao médico para fazer o primeiro ultrassom. No meio da tarde, um estrondo rasgou o silêncio do pacato distrito de Bento Rodrigues. "Quando olhei, estava aquela poeira enorme vindo. Eu falei: 'Meu Deus, o que é aquilo?' A professora, Dona Carminha, passou em frente à minha casa e falou assim: 'Acho que a barragem se rompeu, corre que vai morrer todo mundo'."

Ela só teve tempo de pegar o filho Caíque no berço e de se abrigar na casa de uma vizinha, junto com o irmão, Wesley Isabel, de 27 anos, e os sobrinhos Emanuelle e Nicolas. A chegada da lama destruiu por completo o imóvel onde estavam. Em pouco tempo, Priscila perdeu de vista o filho, o irmão e a sobrinha. *G1 — Foto: Patrícia Fiúza/G1

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