Sequestrador de ônibus na Ponte contou a parentes que ouvia 'vozes dentro da cabeça'.
21/08/2019 08:56 em Brasil

No início deste ano, parentes de Willian Augusto da Silva começaram a notar mudanças em seu comportamento. Era um rapaz introvertido, de poucos amigos. Na Delegacia de Homicídios, na Barra, a família contou que, em janeiro, durante um churrasco, ele teve um surto psicótico. Disse que se sentia deprimido, que estava sofrendo muito e que ouvia “vozes dentro da cabeça”. Depois desse episódio, passou a beber muito. Além disso, ficava a maior parte do tempo usando um celular para navegar pela internet. Os pais de Willian, moradores do bairro do Jockey, em São Gonçalo, perceberam a mudança, mas o jovem, de 20 anos, não chegou a receber atendimento médico. Ele nunca tratou a depressão. Na madrugada de ontem, enviou uma mensagem para os pais, avisando que iria acabar com a própria vida. Pouco mais de cinco horas depois, às 9h04m, ele foi morto com seis tiros disparados por um sniper do Bope.

Para a polícia, não há dúvida de que toda a ação foi planejada com bastante antecedência por Willian. Por volta das 5h, ele chegou ao ponto final do ônibus 2520, em Alcântara (São Gonçalo), e entregou ao motorista uma nota de R$ 20. Recebeu o troco de R$ 10,85 sem falar nada. Numa mochila, carregava todo o material que iria usar durante o sequestro — a réplica de uma pistola, uma arma de choque, garrafas PET cortadas para acondicionar gasolina, barbante, um isqueiro e um livro, “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, do escritor Charles Bukowski. A obra é uma reflexão sobre a vida, mostra como a sociedade negligencia pequenas coisas que poderiam torná-la melhor. O livro foi publicado em 1998, quatro anos após a morte de Bukowski. “Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada”, diz um trecho. — Meu primo era um ótimo filho. Ele desencadeou um quadro depressivo. Tinha que pagar pelo que fez hoje, e, graças a Deus, quem está chorando é só a minha família. Digo isso porque outras 39 poderiam estar chorando. Foi ele quem quis pagar com a própria vida pelo que fez. Eu procurei todas as famílias de passageiros para pedir desculpas. Pedir desculpas é o que minha família pode fazer agora — afirmou Alexandre Silva, emocionado.*G1 Foto: Reprodução

 

 

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