A esteticista Danielle Estevão Fortes, de 27 anos, ainda sofre as consequências de ter sido presa por engano, e de ter permanecido 11 dias em um xadrez, após ser confundida com a irmã Daniela Silva Estevão, de 24, que é suspeita de dois assaltos a lojas de celulares, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na última quinta-feira, Danielle compareceu a um posto do Detran para fazer uma carteira de visitante do sistema penitenciário. Ela pretendia visitar Daniela, que foi presa no dia 26 de junho, em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. Durante o cadastro para obter o documento, a esteticista recebeu a notícia de que isso só seria possível, em junho de 2020, já que apesar de nunca ter cometido qualquer crime, seu nome ainda consta no sistema como sendo de alguém que responde a um processo criminal. Danielle deixou o Complexo do Gericinó, na Zona Oeste do Rio, no último dia 18 de junho, após a Justiça ter reconhecido que sua prisão era ilegal. — Foi um constrangimento. Continuo me sentido humilhada, mesmo não estando mais presa. Achei que a Justiça tivesse resolvido tudo, já tem mais de um mês que sai da prisão e a situação não mudou. Quero ter o direito de visitar minha irmã. Quero dizer pessoalmente que a perdoei e que eu a amo — disse a esteticista, se referindo ao fato de Daniela não ter se apresentado a polícia para desfazer o engano. Segundo o advogado João Vicente Cordeiro de Oliveira, que defende a esteticista, Danielle ainda não teve seu nome totalmente limpo por conta da morosidade da Justiça. Ele explicou que dois processos tramitavam contra sua cliente, na 2ª e na 3ª Vara Criminal de Duque de Caxias. Nos dois casos, ele afirma ter entrado com uma defesa preliminar, pedindo que Danielle fosse absolvida sumariamente. Apesar das duas Varas Criminais terem reconhecido que Danielle havia sido presa por engano, por enquanto a Justiça só absolveu sumariamente a esteticista apenas em um dos casos. — Já conseguimos a absolvição sumária na 2ª Vara Criminal, mas no outro juízo não. Apesar de já ter ocorrido um aditamento da denúncia, na 3ª Vara Criminal, quando o nome da Daniela foi incluído no processo, o pedido de absolvição a minha cliente ainda não foi apreciado — disse o advogado. Daniela está presa na Penitenciária Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo do Gericinó. O local é o mesmo onde a esteticista ficou 11 dias atrás das grades após ser confundida com a irmã. Danielle teve a prisão decretada, em 2018, após ser confundida com Daniela em uma investigação da 59ªDP (Caxias). As duas irmãs tem semelhanças físicas e nomes parecidos. Após sair da prisão, Danielle não encontrou a irmã em Mauá, onde a família mora, no município de Magé, na Baixada Fluminense. Daniela teria deixado o local assim que a notícia da prisão da esteticista foi publicada nos jornais. Antes de partir, ela pediu a uma amiga para entregar uma carta nas mãos de Danielle. Em duas folhas de papel, escritas de próprio punho, Daniela deu a entender que está arrependida e pede perdão a irmã. Ela diz ainda, na correspondência que, por conta do amor que sente pela esteticista, se transformou em uma outra pessoa. "...Meu amor por você me fez querer nascer em Cristo e viver feliz sem ilusão. Agora, é tão diferente. Me perdoa por te fazer passar por uma tribulação. Eu não tinha noção de como doeria tanto..", escreveu Daniela em um trecho da carta. Oito dias depois da esteticista sair da cadeia, a irmã Daniela foi reconhecida ao passear em Rio das Ostras e acabou sendo detida pela polícia . No mesmo dia, a Justiça decretou a prisão preventiva de Daniela. Procurada, a assessoria de Imprenda do Tribunal de Justiça disse que o processo ficará por 15 dias na defensoria pública, a contar do último dia 24, e que antes disso não há como qualquer decisão ser tomada pelo juízo responsável. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), reponsável por expedir autorizações de visitas para os presidiários, enviou a seguinte nota:
"De acordo com a resolução 584, ART 16º -Poderão solicitar visitação comum para ascendentes e descendentes (pai, mãe e filho) os visitantes que tenham contados 6 meses nas condições de egressos, beneficiados por Livramento Condicional, Regime Aberto, Prestação de Serviços à Comunidade, Liberdade Provisória e Habeas Corpus). Em caso de PAD (Prisão Albergue Domiciliar) será proibido a emissão de carteira. Para as demais qualificações, os visitantes elencados somente poderão solicitar carteira de visitante após o período de 12 meses".*G1Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo