‘Todos os dias estamos enterrando crianças no nosso estado’, diz madrinha de menina morta em São João de Meriti
Brasil
Publicado em 26/01/2023

A madrinha da menina morta com um tiro em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, na noite de quarta-feira (25), fez um apelo para que a sociedade não normalize a morte de inocentes, como o caso de Rafaelly da Rocha Vieira, vítima de bala perdida na rua onde morava.

 

 

“Pedir que a Justiça seja feita não vai fazer diferença, não vai trazer a minha afilhada de volta. Todos os dias estamos enterrando crianças no nosso estado. Parem de normalizar o uso de armas. Parem de achar que é normal crianças morrerem todos os dias. Não é normal”, disse Elza Alaíde Menezes, madrinha de Rafaelly.

 

A madrinha de Rafaelly contou que a menina passou o dia em casa, mas foi até a porta para ver outras crianças, que estavam no portão.

“Minha afilhada tinha passado o dia inteiro dentro de casa. Falando no campo da família, conversando. Ela foi até o portão. As outras crianças chamaram. A vizinha disse: ‘Não vai não’. E ela falou: ‘Vou só lá, ver o que as outras crianças querem’. Porque ela era assim, atenciosa com todo mundo. Ela cuidava do pai, da mãe, do avô, da bisavó dela. Destruíram a nossa família”, contou Elza.

Rafaelly, menina morta em São João de Meriti, na Baixada Fluminense — Foto: Reprodução

Rafaelly, menina morta em São João de Meriti, na Baixada Fluminense — Foto: Reprodução

Elza contou que a família não vive em área de risco e todos se preparavam para celebrar o aniversário da menina, que completou 10 anos no dia 20 de janeiro. A festa seria no sábado (28), em um sítio.

Ela contou que soube da morte da menina quando estava no trabalho e ligou para o pai da criança, que, até o momento, só sabia que tinha sido atingida.

Segundo a madrinha, a menina foi atingida por um tiro de fuzil no tórax. Rafaelly chegou a ser socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Íris, mas teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu (veja nota abaixo).

O corpo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense.

“A vizinha me telefonou, eu estava no trabalho. Eu liguei para o meu irmão, que estava indo para o hospital, sabendo apenas que ela tinha sido baleada. Toda hora as pessoas mudam as informações, mas vocês podem ver que é uma rua que não tem barricada, nada disso. Não teria motivo para tal coisa”, disse a madrinha da menina.

Os moradores da região fizeram um protesto na manhã desta quinta (26), pedindo Justiça pela morte de Rafaelly. Eles queimaram pedaços de madeira próximo ao local onde a criança morreu.

Moradores protestam após morte de criança na Baixada  — Foto: Lucas Madureira/TV Globo

Moradores protestam após morte de criança na Baixada — Foto: Lucas Madureira/TV Globo

A madrinha de Rafaelly finalizou dizendo que ninguém merece passar por uma situação como a que a família está enfrentando.

 

“A gente acha que só vai acontecer na família do próximo. A gente acha que só vai ver na televisão. E, nesse exato momento, o corpo da minha afilhada está no IML com um tiro de fuzil. Ela morreu, com dez anos de idade, com um tiro de fuzil. Ninguém merece passar por isso, ainda mais uma criança”, encerrou Elza.

 

O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). Agentes fazem diligências e buscam imagens de câmeras de segurança que tenham registrado a ação e ajudem a identificar os criminosos.

Rafaelly, vítima de bala perdida  — Foto: Reprodução

Rafaelly, vítima de bala perdida — Foto: Reprodução

Nota da Secretaria de Saúde

 

 

"A Secretaria de Saúde de São João de Meriti informa que Rafaelly da Rocha Vieira, de 10 anos, deu entrada na UPA de Jardim Íris, às 19h40 de ontem, 25/1, vítima de lesão por arma de fogo. Ela teve parada cardiorrespiratória e todas as tentativas de salvamento foram realizadas, mas infelizmente, sem sucesso. A criança chegou viva à unidade, porém não resistiu aos ferimentos."

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