A Associação enviou o documento ao Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal. Procurados, os órgãos não responderam até a última atualização da matéria.
O documento é assinado pelo líder indígena Dário Kopenawa. Nas redes sociais, ele comentou sobre o caso: "Estamos esgotados de pedir pelo mínimo".
Antes do ataque, o dono da cantina avisou aos yanomami que um grupo de garimpeiros membros de facção estavam vindo para atacá-los. O garimpeiro soube do ataque através de grupos de mensagens em que os garimpeiros se comunicam.
O ataque foi feito por um grupo de 10 homens. Os indígenas tentaram escapar se jogando no rio, mas Cleomar foi atingido por vários tiros, na testa e no tórax e faleceu. Já o adolescente caiu sobre um dos barcos e foi baleado no rosto. O tiro também atingiu a nuca do indígena.
Cleomar foi enterrado na comunidade de Napolepi, onde os indígenas têm por costume sepultar seus mortos. O adolescente foi encaminhado ao Hospital Geral de Roraima (HGR) para receber atendimento e depois encaminhado à Casai.
À Hutukura, o pai do adolescente relatou que não sabe dizer o que pode ter motivado o ataque. Uma das suspeitas é devido ao sumiço de uma caixa de cachaça e acusação de furto por partes do indígenas.
Outra suspeita é que os garimpeiros que organizaram o ataque fazem parte de uma facção criminosa. Os garimpeiros instalados próximos à comunidade de Napolepi negaram a participação.
"É de extrema gravidade que yanomami reunidos pacificamente nas mediações de sua própria comunidade sejam friamente atacados por armas de fogo, levando à morte e ferimentos graves", argumenta o ofício.
Entre os pedidos da Associação estão a retirada dos garimpeiros e do garimpo na TI Yanomami, além da reconstrução da Base de Proteção Etnoambiental (Bape) de Korekorema, a presença da Força Nacional na região para impedir novos ataques e a "neutralização de membros de facção que se organizam nos focos garimpeiros instalados no rio Uraricoera."
Pouco antes do ataque, os yanomami receberam ameaças de garimpeiro, de acordo com a Hutukara. Ele alertou os indígenas para que não fossem contra o garimpo para que os ataques que aconteceram em 2021 não se repetissem.
Isto porque no local há presença dos garimpeiros membros de facção e armados com fuzis. Em junho de 2021, uma série de conflitos entre indígenas e garimpeiros foram registrados no território.
"Já não é possível caçar ou pescar na região pois as áreas onde o faziam foram ocupadas pelo garimpo. São constantes os temores com a quantidade de garimpeiros subindo e descendo do rio fortemente armados", menciona o ofício.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.