‘Só sobrevivi porque fingi estar morta’, diz professora que foi espancada pelo marido em Jacareí
Brasil
Publicado em 21/09/2022

Uma professora de 30 anos fingiu estar morta para que o marido parasse de agredi-la em Jacareí (SP). A vítima registrou o caso na Polícia Civil, que investiga o crime e procura pelo homem, que fugiu após as agressões. A Justiça concedeu a ela uma medida protetiva, mas a mulher afirma que teme novas agressões.

 

 

A vítima, que pediu para não ter o nome divulgado, conta que o crime aconteceu no dia 4 de setembro, no bairro Jardim Maria Amélia. Ela estava em casa com o filho de sete anos e o marido, com quem é casada há 10 anos, quando o homem acordou desnorteado e a agrediu.

 

“Ele acordou fora de si, estava fazendo xixi no guarda-roupa e eu só falei pra ele ir ao banheiro. Quando eu disse isso, ele ficou violento e começou com as agressões, me dando socos e chutes no rosto”, contou.

 

 

Ainda segundo a vítima, ela pediu diversas vezes para ele parar com os golpes e tentou fugir dele, mas não conseguiu. “Eu tentei tirar ele de cima de mim, mas não conseguia. Ele me jogou no chão e me espancou, esmurrando meu rosto e minha cabeça sem parar. O tempo todo ele falava que iria me matar e não parava com as agressões”, narrou.

Sem conseguir se defender e temendo não sobreviver, a mulher decidiu fingir que estava morta, para ver se o homem parava com os ataques.

 

 

“Eu prendi a respiração e fiquei sem me mexer, só recebendo os socos. Ele achou que eu tivesse morrido, então parou com as agressões e foi para o quarto voltar a dormir. Quando percebi que ele realmente estava dormindo, com muito esforço consegui me levantar do chão e pedir ajuda para os vizinhos”, disse.

Marcas da violência

 

A professora afirma que uma vizinha a levou até o hospital e a ajudou a resgatar o filho que estava em casa e presenciou toda a agressão. No hospital, ela ficou internada por um dia e mesmo recebendo alta, mais de 15 dias depois do ocorrido ainda está com sequelas físicas e emocionais deixadas pela violência.

“Ele quebrou meu nariz, meu rosto ficou tão inchado que eu não conseguia abrir os olhos, perdi toda a sensibilidade do lado direito do meu rosto porque ele rompeu meu nervo. Hoje ainda tenho hematomas, muitas dores no corpo, estou com o rosto inchado e os meus olhos estão com os vasos sanguíneos estourados”, contou.

A vítima registrou boletim de ocorrência contra o agressor. Ela conta questiona ainda o caso ter sido registrado como lesão corporal e não tentativa de feminicídio.

 

“Se eu não tivesse me fingido de morta, eu não estaria viva. Ele só parou de me espancar, porque tinha certeza que eu tinha morrido. Foi uma clara tentativa de feminicídio. Registrar isso como lesão corporal além de uma injustiça, é ser incoerente comigo, com a verdade, com a gravidade do acontecido”, afirmou.

 

 

Impunidade e medo

 

A Justiça concedeu uma medida protetiva a ela, mas com o homem solto, a professora não se sente segura. Ela está escondida, sem poder trabalhar, sem conseguir dormir e temendo ser novamente vítima das agressões do ex-companheiro.

"Com ele solto, eu estou vivendo igual uma foragida. Tenho medo dele me achar. Não posso sair, não consigo dormir, está sendo horrível, o momento mais terrível da minha vida. Até para ir ao psicólogo tenho medo e a todo momento tenho flashs dele me espancando. Minha vida está sendo destruída e ele continua a solta, como se nada tivesse acontecido", disse.

A mulher diz que espera que justiça seja feita, para que então possa retomar a própria vida, voltar ao trabalho, a exercer o papel de mãe e ter um vida tranquila.

 

"Eu nunca pensei que ele pudesse ter coragem de me matar. Hoje eu sei que tem e que teria feito isso se eu não tivesse enganado ele. Eu espero que a justiça seja feita, que ele pague pelo crime que cometeu, que responda por tentativa de feminicídio. Só com ele preso que vou poder sair desse cárcere privado e voltar a viver", contou.

 

 

 

Investigações

 

 

De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, o agressor tem 35 anos e cumpriu pena por tráfico de drogas. Há cerca de um ano ele saiu do presídio, após conseguir progressão para o regime aberto. No momento não há nenhum mandado de prisão expedido contra ele.

Já segundo o Ministério Público, o órgão concedeu uma medida protetiva para a vítima, na qual o agressor fica proibido de estar a menos de 100 metros dela. O MP informou que está aguardando a intimação do agressor e a conclusão das investigações pela Delegacia da Mulher, para acompanhar novos desdobramentos e informou que não poderia dar mais informações sobre o caso, porque o processo está sob sigilo.

A advogada da vítima informou que vai entrar com um processo para tentar retificar o crime, mudando o caso de lesão corporal para tentativa de homicídio.

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que o caso está sendo investigado em inquérito policial instaurado pela Delegacia da Mulher de Jacareí. Segundo a SSP, a autoridade policial solicitou uma medida protetiva em favor da vítima à Justiça, que ainda não representou pela prisão do suspeito. Investigações estão em andamento para localizar o agressor.

 

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