A decisão sobre o médico equatoriano saiu um dia depois da entrega da denúncia pelo MP. A rapidez da análise do mérito se deveu ao fato de, no mesmo documento, Cláudia Portocarrero ter pedido a prisão preventiva de Bolívar, que encontra-se em prisão temporária, cujo prazo expira no sábado (20).
O Ministério Público deixou de fora a denúncia por suposto cárcere privado, por entender que essa não era a condição de Daiana Cavalcanti, uma vez que ela recebia visitas, tinham livre acesso às dependências do Hospital Santa Branca e que não foi impedida de deixar as dependências do local.
Os autos da investigação revelaram ainda que a resistência de Bolívar em realizar a transferência de Daiana se devia ao fato de não desejar que sua conduta chegasse ao conhecimento de outras pessoas, além daquelas já envolvidas, ou mesmo para não aumentar seus “prejuízos”, custeando despesas para reversão do quadro clínico da paciente em outro lugar, o que havia sido determinado pelo Juízo da 5ª vara Cível da Comarca de Duque de Caxias.
Cláudia Portocarrero contou ainda que se impressionou com o número de denúncias contra Bolívar Guerrero quando o caso de Daiana veio à tona, e também com os processos que ele já tem.
"Ele não tem nenhum respeito pela vida humana. Usa a medicina única e simplesmente para ganhar dinheiro. Além dos registros, que já existem contra ele, há denúncias de que ele teria sido responsável por mortes. São casos de chocar. Queremos ir a fundo nessas investigações para que ele não saia impune. Aliás, ele mesmo dizia para as pacientes que não adiantava denunciar, que nada aconteceria com ele. Vamos mostrar que acontece, sim. Que tem Justiça", diz.
Médico cobrava duas vezes
A promotora lembra que, entre as coisas absurdas que tomou conhecimento ao longo da investigação, está o fato de Bolívar Guerrero cobrar pelas cirurgias reparadoras dos erros que ele mesmo cometia.
"Dá para imaginar que ele cobrava duas vezes? Para operar a pessoa e para consertar o erro que ele mesmo cometeu. Foi assim com a Daiana Cavalcanti, que teve problema no seio, na primeira operação e, quando voltou nele, ele 'empurrou' uma mamoplastia", diz Cláudia.
'Medicina era apenas um negócio'
Em outro caso, ao atender uma paciente, a promotora conta que Bolívar removeu um nódulo do seio de uma paciente, mas não mandou o material para a biopsia, para a investigação. O nódulo era um câncer, que evoluiu e a mulher perdeu a mama.
"Ele agia fazendo o que quisesse, como se fosse completamente imune, acreditando na ineficiência do Estado. Nunca teve nenhum comprometimento, e a medicina para ele era apenas um negócio", diz.
Paciente vítima de suposto cárcere segue internada
A paciente Daiana Cavalcanti Chaves, que acusou o médico Bolívar Guerrero e o Hospital Santa Branca de cárcere privado, segue internada no Hospital Federal de Bonsucesso.
Ela se submeteu a quatro procedimentos para remoção de tecido necrosado da barriga e dos seios, e passou por uma mamoplastia para recostruir a mama.
Bolivar foi preso em 18 de julho, quando estava dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca, clínica da qual ele é sócio. O cirurgião foi acusado de manter Daiana Cavalcanti, de 36 anos, em cárcere privado na unidade de saúde.
A polícia apontou que a mulher estava em estado grave, com várias complicações após ter feito uma cirurgia plástica.
Daiana tentou ser transferida de hospital, mas segundo ela e testemunhas o cirurgião dificultou a transferência. Ela estava internada no Santa Branca desde junho deste ano.
Alguns dias após a prisão, Daiana conseguiu ser transferida para o Hospital Federal de Bonsucesso, onde se recupera.
Após a prisão, vários outros ex-pacientes de Bolívar denunciaram à imprensa problemas que tiveram com o médico. Alguns disseram que foram operados por uma técnica de enfermagem que atuava com o equatoriano.
Quase 20 processos e 1 prisão
Bolívar Guerrero Silva, segundo levantamento feito pelo g1, responde a pelo menos 19 processos na Justiça. Além das ações judiciais, Bolívar já foi preso, em 2010, na Operação Beleza Pura da Polícia Civil, que terminou com a detenção de oito médicos, entre eles o cirurgião equatoriano.
Na ocasião, ele foi acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa, além de usar outros produtos falsificados. Segundo as investigações, o produto falso era fabricado em Goiás e distribuído em clínicas de estética no Rio.