Uma testemunha, amiga da vítima, contou em depoimento aos investigadores que Guerrero Silva chegou a fazer chantagem para dificultar a saída da paciente da unidade. Ela disse que o médico ameaçou não usar mais a máquina para drenar a secreção expelida pelo corpo de Daiana.
Em depoimento à polícia, o médico negou que Daiana era mantida em cárcere. Ele disse que a mulher não quis ser transferida e afirmou que dava toda a assistência para ela. Bolívar alegou, ainda, que não houve erro médico e que ela não foi mantida em cárcere privado. Além disso, que ela tinha acompanhante e acesso ao telefone celular.
À polícia, outra testemunha disse que Daiana apresentou pus nas feridas da cirurgia, aparentemente necrosando, e que os pontos sempre soltavam e ela ficava com as feridas abertas. Também foi dito que o médico sempre afirmava que Daiana estava em situação estável e que ele cuidava dela.
Funcionários também prestaram depoimentos. Uma profissional chegou a ser questionada se Daiana estava sendo mantida na unidade de saúde "por livre e espontânea vontade". Ela disse que nenhum paciente é obrigado a permanecer no hospital. A mulher contou que, mesmo quando não há alta médica, o paciente pode sair da unidade assinando um documento de alta à revelia.
Daiana está internada em estado grave, esperando uma transferência de hospital. A família da paciente conseguiu duas liminares na Justiça, que ainda não foram cumpridas. A primeira, na esfera cível, do dia 14 de julho, determinava que o Hospital Santa Branca e o médico fizessem a transferência da paciente, sob pena de multa de R$ 2 mil em caso de descumprimento.
Na segunda-feira (18), a Justiça concedeu uma outra liminar, dessa vez na esfera criminal. Mas, ainda assim, até esta quarta-feira de manhã Daiana ainda não tinha saído do Santa Branca.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a prisão temporária do cirurgião durante a audiência de custódia na terça (19). Ele foi preso após a denúncia de que estaria mantendo Daiana em cárcere privado na unidade de saúde, da qual é sócio.
"Eu só queria que me tirassem daqui, para outro médico me acompanhar, porque eu já não aguento mais, já não aguento mais o que esse homem fez comigo. O meu peito está todo necrosado, está doendo tanto”, afirmou.
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar o caso. Além disso, Daiana disse que estava sozinha no local.
"Eu não tenho uma enfermeira pra poder me levantar da cama, eu mesma tenho que levantar sozinha. Ontem, eu passei o dia toda sozinha, porque minha outra acompanhante ficou com trauma dele", afirmou a paciente.
Família não tem dinheiro
O pai de Daiana, Paulo Lacerda, contou que não tem dinheiro para arcar com a transferência para uma unidade de saúde privada. "Estamos tentando ver se conseguimos passar para outro hospital, mas está difícil. Eu não tenho condições financeiras. Hospital particular é caro. Eu sou camelô. Eu não tenho como transferi-la”, afirmou.
Outras pacientes procuraram a Deam-Caxias para denunciar o médico. A dona de casa Ana Cláudia Gonçalves, de 49 anos, conta que fez uma plástica no abdômen e colocou próteses nos seios em 2019 no Hospital Santa Branca.
“Eu dei duas paradas cardíacas, fui parar na UPA. Necrosou, entendeu? E cheguei quase morta ao hospital. Estou com defeito, a minha barriga está toda torta, o meu umbigo está todo torto, e eu estou com sequela. Ele não me operou. Quem me operou foram as enfermeiras, ele estava lá só para me auxiliar”, afirmou Ana Cláudia.
Bolívar foi preso na última segunda-feira (18), quando estava dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca. Segundo a polícia, a mulher teve complicações depois de uma cirurgia de abdominoplastia e está em estado grave.
Daiana tentou ser transferida de hospital, mas o cirurgião teria dificultado a transferência. Ela está internada desde junho desse ano.