Estudantes são tratados como bandidos e expostos na internet por empresário em São Luís
Brasil
Publicado em 20/09/2021

Três estudantes identificados como Jadilson Campos, Rubenspierre Costa e Gabriel Diniz, que foram fazer uma pesquisa de preço em uma autoescola, foram tratados como bandidos e tiveram suas imagens jogadas na internet pelo empresário que é dono do local em São Luís, capital maranhense.

No vídeo que foi postado nas redes sociais pelo próprio empresário, que não teve a sua identidade revelada, Jadilson é o jovem que aparece de camisa azul. Ele entra e senta em frente à recepcionista da autoescola. Logo em seguida, chegam seus dois amigos, Rubenspierre e Gabriel. Os estudantes são confundidos com bandidos e expostos na internet.

Junto com o vídeo, o proprietário do estabelecimento ainda postou a legenda: "por pouco, não fomos assaltados". Ele também afirmou que "eles (os jovens) foram com esse propósito". O empresário também cita um prejuízo de R$ 6 mil que teve no último assalto, e que "o jeito é cancelar o CPF das almas sebosas". No final, nas entrelinhas, defende o armamento dos comerciantes.

 

Orçamento para carteira de motorista

 

O estudante Jadilson disse que entrou no local apenas para pegar informação sobre o orçamento de uma carteira de motorista.

“Minha mãe mandou eu ir me informar pra tirar a carteira A e a B. A gente foi vacinar e na volta a gente passou lá. Só para me informar mesmo o preço da carteira. Só isso”, relatou.

Os três amigos contaran que estavam juntos porque tinham ido tomar vacina contra Covid-19. De acordo com Rubenspierre, após pegar as informações na autoescola eles foram embora.

“Nessa que a gente foi na autoescola eu fui estacionar o carro. Enquanto eu estacionava Jadilson foi primeiro para pegar informação para não demorar muito tempo lá dentro da autoescola. Bebemos água e eu fui e perguntei pra ele se já tava tudo feito e aí a gente saiu”.

 

Exposição nas redes sociais

 

O vídeo e a legenda circularam nas redes sociais. Agora, os jovens tratados como assaltantes não conseguem ter paz.

“Eu tou me sentindo constrangido por conta desse vídeo que tá circulando e alguém reconhecer nós na rua e querer fazer alguma coisa de mal. Reconhecer nós como bandido”, desabafou, Gabriel.

As famílias também temem pela integridade física deles. Elisângela Soares, mãe de Gabriel, afirmou que está revoltada com a atitude do empresário.

 

“Não é porque ele é empresário que ele pode fazer isso. Ele não pode fazer isso. Ele não tem poder pra isso. Ele não pode julgar os outros. Quem pode julgar é só Deus. Então como que ele vai julgar meu filho? Julgar os amigos dele? Ele não pode fazer isso”.

 

Registro na polícia

 

As famílias fizeram registro na polícia apontando uma série de crimes contra a honra e ameaças. A advogada Emília Almeida, que acompanha o caso, afirmou que existem vários crimes a serem apurados.

 

“A gente verifica aqui também o crime de ameaça, o crime contra a honra, que foi a calúnia, a difamação, a injúria racial, embora praticado pela internet”.

 

A Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA) já tomou conhecimento do caso e pede providências do Ministério Público. Para o presidente da Comissão da Igualdade Racial, Erick Moraes, o racismo está por trás dos outros crimes relacionados à postagem do empresário.

“A partir do momento que as vítimas, três jovens são identificados como ladrões, esse crime de racismo ele cria um manancial, ele cria uma fonte para que vários outros crimes venham a acontecer. Essas pessoas estão ameaçadas de vida, elas têm toda uma preocupação que elas não tinham antes e, principalmente, elas estão com a sua imagem completamente destruídas e a gente precisa trabalhar forte para que haja, também, a reparação criminal, quem sabe com a reclusão dessa pessoa que está sendo acusada, mas também a reparação no lado cível para que a gente possa fazer uma transformação na vida dessas pessoas”, pontuou Erick Moraes.

 

Procurado, o empresário e dono da autoescola envolvido no caso, ainda não se manifestou sobre o assunto.

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