"Chegando lá, estava bem aglomerado. Na mesa, frisei várias vezes que ele tinha asma crônica. A atendente anotou na mesa e já mandou meu filho se dirigir para a vacina. Lá, o técnico foi aplicando. Não informou a ele qual era a vacina e nós, na correria, saímos sem questionar. Em casa, quando fui conferir o cartão de vacina dele, vi que tinha tomado AstraZeneca", afirmou a mãe do garoto.
A segunda aplicação ocorreu na terça-feira (24). A estudante de fisioterapia Larissa Brunnele, que também tem asma crônica grave, disse que perguntou ao menos três vezes à técnica de enfermagem responsável pela aplicação sobre a autorização do imunizante para menores de idade.
"Ela disse que não tinha nenhum problema, mas eu já tinha essa noção de que a única autorizada pela Anvisa era a Pfizer, mas eu tive medo de ficar duvidando, porque a gente já chega com aquele negócio de não escolher vacina e tudo mais. Eu perguntei, minha mãe perguntou e eles disseram que não tinha nenhum problema", disse.
De acordo com a Anvisa, os únicos pedidos para incluir na bula da sua vacina a autorização para uso em menores de 18 anos foram feitos pela Pfizer e pelo Instituto Butantan, que produz a CoronaVac. Este último, no entanto, foi negado por unanimidade pela agência, no dia 18 de agosto.
Além disso, somente a Janssen, cujo imunizante é aplicado em dose única, tem autorização para o estudo clínico de sua vacina com menores de idade.
De acordo com a Edjenia Araújo, a família está apreensiva com a aplicação incorreta, devido ao fato de não haver testes clínicos da AstraZeneca em adolescentes.
"No dia seguinte, ele teve muita dor de cabeça e febre. Não recebi nenhuma ligação, até que entrei na rede social do secretário de Saúde e, depois disso, me contataram. Mandaram uma ambulância, nos levaram para a Policlínica Torres Galvão e o médico disse que, aparentemente, ele estava tendo uma reação normal à vacina, de adulto", afirmou a professora.
Edjenia Araújo afirmou, ainda, que a chefe do Programa Nacional de Imunizações (PNI) da cidade entrou em contato com a família para notificar o caso à Secretaria Estadual de Saúde.
"Só me ligaram de novo na terça, quando aconteceu esse novo caso. O monitoramento que disseram que iam fazer está sendo feito por mim, que estou 24 horas por dia dentro de casa, sem deixá-lo, com medo de acontecer alguma coisa", declarou.
Risco
De acordo com o representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Pernambuco, Eduardo Jorge da Fonseca Lima, o que ocorreu é considerado, dentro de uma campanha massiva de vacinação, um erro programático. A probabilidade de esses adolescentes terem algum evento adverso grave, segundo ele, é muito pequena.
"Eles devem, em 60 dias, tomar a vacina da Pfizer, já que estudos demonstram que a intercambialidade entre ela e a vacina da AstraZeneca tem boa resposta imunológica. Do ponto de vista de imunidade, quando tomarem a segunda dose, eles estarão protegidos. Em relação a evento adverso, temos que acompanhar de perto, mas provavelmente não vai acontecer", explicou.
Por meio de nota, a prefeitura de Paulista informou que Larissa Brunnele está sendo "assistida e monitorada constantemente" e que a "conduta da profissional de saúde que cometeu esse equívoco está sendo apurada e as medidas cabíveis serão tomadas".
A prefeitura disse que, antes da aplicação da dose errada, a Secretaria de Saúde já havia intensificado o monitoramento e a orientação aos profissionais de saúde em todos os polos de vacinação.
A gestão informou que "a fiscalização e a orientação a esses profissionais serão feitas com ainda mais intensidade".
Sobre o caso de Juan, a administração municipal afirmou que "está monitorando o caso do adolescente que recebeu a AstraZeneca".
Por meio de nota, a prefeitura afirmou que procurou a família da jovem e está oferecendo todo o acompanhamento necessário.
"A conduta da profissional de saúde que cometeu esse equívoco está sendo apurada e as medidas cabíveis serão tomadas", afirmou, no comunicado. O município disse, ainda, que não houve o registro de outros casos semelhantes.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que, por meio do Programa Estadual de Imunização (PNI-PE), foi comunicada sobre os casos pelo município.
Além disso, a secretaria disse que, em 60 dias, os adolescentes deverão tomar a vacina da Pfizer como segunda dose e que a evolução dos casos será monitorada.
"O PNI está dando todo o apoio técnico e solicitou que o município faça o monitoramento dos casos. Também está em contato com o Ministério da Saúde para saber como proceder nessas situações.
A SES afirmou, ainda, que o PNI-PE faz capacitações periódicas com os municípios para orientar sobre o processo vacinal contra a Covid-19, "além de repassar as devidas orientações nas reuniões da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e prestar apoio técnico sempre que necessário".