Paulista vacina adolescentes contra Covid com imunizante não autorizado pela Anvisa para menores de 18 anos
Brasil
Publicado em 26/08/2021

Pelo menos dois adolescentes, de 15 e 17 anos, foram vacinados contra a Covid-19 com um imunizante não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para menores de 18 anos. Os casos ocorreram no Shopping Norte Janga, em Paulista, no Grande Recife, dias após o município ampliar a campanha para pessoas entre 12 e 16 anos com comorbidades ou deficiências.

 

No dia 17 de agosto, o governo do estado liberou a vacinação de pessoas com idades a partir de 12 anos, com comorbidades.

O imunizante aplicado nos dois menores de idade foi o desenvolvido pela Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca, e importada pela Fiocruz. No Brasil, a única vacina autorizada pela Anvisa para aplicação em menores de idade é a produzida pela Pfizer.

Os dois casos foram confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). A prefeitura da cidade informou que procurou as famílias e "já está oferecendo todo o acompanhamento necessário".

Um representante da Sociedade Brasileira de Imunologia aponta um "erro programático" na campanha, mas afirma que o risco é "pequeno" para eventos adversos.

 

Em São Paulo, houve casos semelhantes. O município de Rio Grande da Serra vacinou ao menos dez adolescentes contra a Covid-19 com imunizantes que não o da Pfizer, único que tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicado em menores de 18 anos.

 

Asma

 

O primeiro erro de aplicação de vacina aconteceu no sábado (21), com o estudante Juan Augusto de Morais Araújo, de 15 anos.

De acordo com a professora Edjenia Araújo, mãe do rapaz, o adolescente tem asma crônica e, por três vezes, foi internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido à doença. A comorbidade é uma das prioridades para o Plano Nacional de Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (PNO).

"Chegando lá, estava bem aglomerado. Na mesa, frisei várias vezes que ele tinha asma crônica. A atendente anotou na mesa e já mandou meu filho se dirigir para a vacina. Lá, o técnico foi aplicando. Não informou a ele qual era a vacina e nós, na correria, saímos sem questionar. Em casa, quando fui conferir o cartão de vacina dele, vi que tinha tomado AstraZeneca", afirmou a mãe do garoto.

A segunda aplicação ocorreu na terça-feira (24). A estudante de fisioterapia Larissa Brunnele, que também tem asma crônica grave, disse que perguntou ao menos três vezes à técnica de enfermagem responsável pela aplicação sobre a autorização do imunizante para menores de idade.

"Ela disse que não tinha nenhum problema, mas eu já tinha essa noção de que a única autorizada pela Anvisa era a Pfizer, mas eu tive medo de ficar duvidando, porque a gente já chega com aquele negócio de não escolher vacina e tudo mais. Eu perguntei, minha mãe perguntou e eles disseram que não tinha nenhum problema", disse.

 

De acordo com a Anvisa, os únicos pedidos para incluir na bula da sua vacina a autorização para uso em menores de 18 anos foram feitos pela Pfizer e pelo Instituto Butantan, que produz a CoronaVac. Este último, no entanto, foi negado por unanimidade pela agência, no dia 18 de agosto.

Além disso, somente a Janssen, cujo imunizante é aplicado em dose única, tem autorização para o estudo clínico de sua vacina com menores de idade.

De acordo com a Edjenia Araújo, a família está apreensiva com a aplicação incorreta, devido ao fato de não haver testes clínicos da AstraZeneca em adolescentes.

 

"No dia seguinte, ele teve muita dor de cabeça e febre. Não recebi nenhuma ligação, até que entrei na rede social do secretário de Saúde e, depois disso, me contataram. Mandaram uma ambulância, nos levaram para a Policlínica Torres Galvão e o médico disse que, aparentemente, ele estava tendo uma reação normal à vacina, de adulto", afirmou a professora.

Edjenia Araújo afirmou, ainda, que a chefe do Programa Nacional de Imunizações (PNI) da cidade entrou em contato com a família para notificar o caso à Secretaria Estadual de Saúde.

"Só me ligaram de novo na terça, quando aconteceu esse novo caso. O monitoramento que disseram que iam fazer está sendo feito por mim, que estou 24 horas por dia dentro de casa, sem deixá-lo, com medo de acontecer alguma coisa", declarou.

 

Risco

 

De acordo com o representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Pernambuco, Eduardo Jorge da Fonseca Lima, o que ocorreu é considerado, dentro de uma campanha massiva de vacinação, um erro programático. A probabilidade de esses adolescentes terem algum evento adverso grave, segundo ele, é muito pequena.

 

"Eles devem, em 60 dias, tomar a vacina da Pfizer, já que estudos demonstram que a intercambialidade entre ela e a vacina da AstraZeneca tem boa resposta imunológica. Do ponto de vista de imunidade, quando tomarem a segunda dose, eles estarão protegidos. Em relação a evento adverso, temos que acompanhar de perto, mas provavelmente não vai acontecer", explicou.

 

 

 

Respostas

 

Por meio de nota, a prefeitura de Paulista informou que Larissa Brunnele está sendo "assistida e monitorada constantemente" e que a "conduta da profissional de saúde que cometeu esse equívoco está sendo apurada e as medidas cabíveis serão tomadas".

A prefeitura disse que, antes da aplicação da dose errada, a Secretaria de Saúde já havia intensificado o monitoramento e a orientação aos profissionais de saúde em todos os polos de vacinação.

A gestão informou que "a fiscalização e a orientação a esses profissionais serão feitas com ainda mais intensidade".

Sobre o caso de Juan, a administração municipal afirmou que "está monitorando o caso do adolescente que recebeu a AstraZeneca".

Por meio de nota, a prefeitura afirmou que procurou a família da jovem e está oferecendo todo o acompanhamento necessário.

"A conduta da profissional de saúde que cometeu esse equívoco está sendo apurada e as medidas cabíveis serão tomadas", afirmou, no comunicado. O município disse, ainda, que não houve o registro de outros casos semelhantes.

 

Estado

 

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que, por meio do Programa Estadual de Imunização (PNI-PE), foi comunicada sobre os casos pelo município.

Além disso, a secretaria disse que, em 60 dias, os adolescentes deverão tomar a vacina da Pfizer como segunda dose e que a evolução dos casos será monitorada.

"O PNI está dando todo o apoio técnico e solicitou que o município faça o monitoramento dos casos. Também está em contato com o Ministério da Saúde para saber como proceder nessas situações.

A SES afirmou, ainda, que o PNI-PE faz capacitações periódicas com os municípios para orientar sobre o processo vacinal contra a Covid-19, "além de repassar as devidas orientações nas reuniões da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e prestar apoio técnico sempre que necessário".

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