A força-tarefa da Operação Simonia afirma que a soltura de Abelha, em 27 de julho, foi irregular. Ao sair pela porta da frente, o traficante cumprimentou Montenegro, que estava em um carro oficial da Seap.
Os registros do circuito interno do Presídio Vicente Piragibe mostram que no dia 23 de julho Raphael Montenegro chega à cadeia para acompanhar uma partida de futebol a convite de Abelha, um dos jogadores.
No dia seguinte, 24 de julho, Raphael Montenegro volta ao presídio, dessa vez para participar da comemoração do aniversário de Abelha.
Nas investigações, a Polícia Federal identificou que tanto Raphael Montenegro, como seus subordinados Sandro Faria e Wellignton Nunes — todos presos PF — autorizaram a entrada de itens proibidos, como bolo, refrigerante e salgadinhos, para a festa de aniversário do detento.
Depois das comemorações, Montenegro retorna ao Vicente Piragibe na noite de 26 de julho. Segundo a força-tarefa, o secretário tentou libertar Abelha, sem sucesso. A soltura, mesmo com um mandado de prisão em aberto, foi no dia seguinte, 27 de julho — quando uma câmera registrou o aperto de mão.
Entenda a soltura de Abelha
Abelha era o “presidente do Comando Vermelho” nas cadeias do Rio e faz parte do conselho que decide tudo que acontece na facção.
Em 2020, Abelha, já encarcerado, foi apontado como um dos mandantes da invasão ao Complexo de São Carlos. Mesmo com um mandado de prisão expedido à época, Abelha permaneceu no regime semiaberto — quando deveria ser transferido para uma prisão mais rígida.
No dia 14 de julho deste ano, o juiz Alexandre Abrahão, do 3º Tribunal do Júri, decretou uma nova prisão do traficante, pela morte de Ana Cristina Silva, de 26 anos.
Apesar disso, a Seap seguiu com os trâmites para libertá-lo. No dia 26, quando o sistema acusava essa e outras pendências — e diante do próprio secretário —, a secretaria consultou a Delegacia de Polícia Interestadual (Polinter) sobre a soltura. Às 20h57, a especializada respondeu que havia aquele mandado de prisão e que, portanto, Abelha não deveria ser solto.
A defesa de Abelha, no entanto, apostou na estratégia de enganar a Justiça. Advogados foram ao Plantão Judiciário alegando que só havia um mandado de prisão, já recolhido, mas a juíza de plantão negou a soltura.
Mesmo assim, no dia 27, por volta das 8h, a Seap acabou soltando Abelha.
Relembre a Operação Simonia
Raphael e dois de seus subscretários foram presos pela Polícia Federal (PF) por suspeita de acordos de “trégua” com os chefes do Comando Vermelho, em troca de influência em comunidades e vantagens indevidas.
Durante a operação, a Polícia Federal apreendeu R$ 250 mil em dinheiro, além de celulares e documentos.
Em maio, um pedido de visita de Raphael ao Presídio Federal de Catanduvas (PR), onde a alta cúpula da facção está presa, levantou suspeitas.
A justificativa dada pela Seap, segundo a PF e o Ministério Público Federal (MPF), foi colher informações para um relatório técnico sobre a possibilidade de retorno detentos fluminenses ao RJ. “O fato foi apontado como incomum pela corregedoria da penitenciária”, destacou o desembargador federal Paulo Cesar Espírito Santo.
A solicitação foi aceita, e a visita de Raphael, Wellington Nunes da Silva e Sandro Farias Gimenes — todos presos nesta terça — foi marcada para os dias 26 e 27. A força-tarefa, no entanto, já tinha obtido na Justiça autorização para instalar escutas ambientais e registrar os encontros.
Raphael Montenegro foi gravado negociando com vários líderes do Comando Vermelho, como Marcinho VP, FB, Claudinho da Mineira, Arafat e Marreta.
Segundo a decisão que determinou as prisões, Raphael propôs interceder pelo retorno dos chefes do Comando Vermelho para prisões no Rio a fim de que tivessem maior facilidade para comandar as atividades criminosas de dentro da cadeia.
Em troca, a cúpula da facção daria uma trégua em determinadas atividades criminosas — como a venda de crack. O objetivo seria fabricar uma falsa sensação de tranquilidade social.