Homem morre após nebulização de hidroxicloroquina em hospital do RS, diz família
05/04/2021 15:10 em Brasil

Um homem de 69 anos morreu após realizar tratamento com nebulização de hidroxicloroquina, contra a Covid-19, no Hospital de Caridade de Alecrim, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Segundo a família de Lourenço Pereira, o médico responsável não informou que realizaria o procedimento. Lourenço faleceu no dia 22 de março.

O médico responsável é Paulo Gilberto Dorneles. A RBS TV tenta contato com o profissional.

O Hospital de Caridade de Alecrim não quis se manifestar, mas informou que deve realizar uma reunião nesta segunda-feira (5) para avaliar o que aconteceu.

A família informou que entrou com denúncia no Ministério Público contra o médico e o hospital.

Ao G1, o MP informou que os familiares do paciente enviaram comunicação do ocorrido ao MP de Santo Cristo, que atende o município de Alecrim. Foi instaurado expediente (NF – Notícia de Fato) e a família também protocolou notícia crime. Agora, o promotor Manoel Figueiredo Antunes vai requisitar instauração de inquérito policial pra averiguar a situação em âmbito criminal.

Este não é o primeiro caso de morte após tratamento com nebulização de hidroxicloroquina no estado. No dia 24 de março, três pacientes morreram após realizar a técnica no Hospital de Camaquã, no Centro-Sul do RS.

O procedimento foi administrado pela médica Eliane Scherer, denunciada pelo hospital ao Conselho Regional de Medicina e ao Ministério Público, que já investiga a conduta dela.

O Ministério Público informou, nesta segunda-feira (5), que segue investigando e não vai se manifestar por enquanto.

Segundo o diretor técnico do Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Camaquã, Tiago Bonilha, três dos quatro internados que fizeram o tratamento apresentaram taquicardia ou arritmias após a nebulização.

"Não tenho como atribuir melhora ou piora diretamente ao procedimento, mas, de fato, o desfecho final de três pacientes submetidos à terapia foi óbito. Todos eles têm documentado em prontuário taquicardia ou arritmias algumas horas após receberem a nebulização", descreve.

 

O caso

 

Lourenço Pereira estava internado no Hospital de Caridade desde o dia 19 de março, quando sentiu falta de ar. Na chegada ao hospital, um exame comprovou o diagnóstico de Covid-19.

No segundo dia de internação, de acordo com o prontuário obtido pela família, o médico prescreveu inalações de hidroxicloroquina a cada seis horas. No dia 21, a equipe médica registrou uma piora do quadro respiratório, e o médico deixou de fazer as nebulizações, receitando um comprimido por dia de hidroxicloroquina via oral.

No dia seguinte, 22 de março, às 12h, Pereira faleceu. Segundo a família, a certidão de óbito apontou como causas da morte a Covid-19 e a doença pulmonar obstrutiva crônica.

"Como um médico usa um tratamento experimental em um paciente com 40% de comprometimento do pulmão", desabafa Eliziane.

 

Descaso com informações

 

A família também reclama que houve um descaso no tratamento em geral que Pereira recebeu no hospital, já que em nenhum momento recebiam notícias.

"Eles [irmãos] chegaram lá na sexta [19] à noite para obterem maiores informações, porém sem sucesso. E como em princípio meu pai não poderia receber visitas, eles ficaram aguardando serem chamados para maiores informações. No domingo [21] pela manhã, alguém da equipe de enfermagem os contatou utilizando o telefone do meu pai para que um familiar fosse ficar de acompanhante", conta Eliziane.

Segundo ela, as informações sobre Lourenço eram dadas apenas por ele mesmo.

"Simplesmente o médico disse pra ele que o caso já estava muito avançado e que iria entrar com medicação, só isso. Não nos contatou, até porque meu pai é uma pessoa idosa, era leigo pra muitos assuntos e internou sozinho".

A filha comparou ao atendimento que a mãe, que também teve Covid, recebeu em Porto Alegre, em que eles recebiam informações diárias através dos médicos.

"A diferença foi enorme, minha mãe deu entrada na UPA e de início os profissionais vieram nos questionar os medicamentos que ela tomava, horários. A médica entrou em contato conosco, já que não poderíamos visitar, passando o quadro clínico. E quando minha mãe conseguiu leito na Santa Casa passamos a receber ligações diárias da médica que estava cuidando dela", diz.

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