Casa onde menino foi acorrentado em barril tinha alimentos em armário e geladeiras, diz laudo
11/02/2021 16:52 em Brasil

O laudo da perícia feita na casa onde um menino de 11 anos foi acorrentado dentro de um barril no Jardim Itatiaia, em Campinas (SP), aponta que havia alimentos guardados tanto no armário quanto em geladeiras da família. Os peritos também encontraram cascas de banana e uma colher de plástico dentro do tambor. Segundo a Polícia Militar (PM), o jovem era alimentado com estas cascas.

A abertura feita no barril tem dimensões de 36 por 36,5 centímetros. A perícia foi realizada em 30 de janeiro, mesmo dia em que o garoto foi resgatado pela PM. Ele tinha mãos e pés acorrentados, estava debilitado e com sinais de desnutrição. Para os policiais, ele contou que comia cascas de frutas e fubá cru. Tinha sede e fome quando pediu ajuda.

Dois dias depois do crime, a casa foi invadida e vandalizada. Móveis, alimentos e objetos diversos foram revirados 

Para o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Sinpcresp), Eduardo Becker, os elementos encontrados no trabalho podem servir como agravante do crime. Becker não participou da perícia, mas recebeu o laudo apresentado.

 

"A criança era colocada em um tambor, isso por si só já mostra maus-tratos. Mas você colocar os parafusos nos quais eram colocadas correntes presas no corpo da criança, isso aumenta ainda mais a gravidade da conduta".

 

 

Alimentos e brinquedos

 

De acordo com a perícia, a casa tinha eletrodomésticos, roupas, calçados e brinquedos. Os armários e duas geladeiras estavam abastecidos com alimentos. Havia, também, água limpa para animais domésticos e uma máquina de café de cápsula.

O barril onde o garoto foi acorrentado estava em um corredor no lado esquerdo da casa. A área não tem telhado. O tambor tem 90 centímetros de altura por 56 de largura e ficava sob uma cobertura de fibrocimento, além de uma manta.

O laudo também indicou a presença de correntes e um cadeado fixados no barril. O documento foi assinado em 3 de fevereiro e arquivado no Sistema Gestor de Laudos da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP).

Para Becker, o fato da criança ter sido deixada em local externo, sem ventilação, também agrava o cenário, já que no interior dos cômodos havia ventiladores.

Outro elemento apontado é a quantidade de comida encontrada na casa. "Essa realidade não é condizente com a justificativa de manter uma criança ali dentro [do barril]".

De acordo com Becker, o laudo pode ser usado para subsidiar as decisões tanto da Polícia Civil e do Ministério Público, quanto a defesa dos réus.

"O laudo é um trabalho imparcial que visa trazer a materialidade da conduta criminal para a Justiça [...] E pode ser usado tanto pela promotoria quanto pela defesa".

 

A reportagem enviou e-mail para a SSP e aguarda retorno. O caso é investigado pela 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Campinas.

 

Jardineiro chamou polícia

 

Jardineiro e morador de uma viela próxima da casa onde residia a família do menino encontrado acorrentado dentro do barril, Ivanei Queirós da Silva foi quem chamou a polícia após se deparar com o garoto pedindo ajuda.

Ele lembrou que as agressões eram recorrentes, mas não imaginou que a situação se agravaria a esse ponto.

 

 

"Apanha praticamente todos os dias. Tanto a mãe como o pai falavam pra ele não chorar, pra não gritar. Então, ele tinha que apanhar calado. Sofrer ali calado.".

 

"Falei pra eles mandar o máximo de viatura possível, que não seria nem urgente, seria mais que urgência, porque tinha uma criança acorrentada, dentro do barril, pelada.".
pelada.".
 

Após o resgate e os dias hospitalizado para passar por exames e tratar a desnutrição, o menino de 11 anos recebeu alta e foi encaminhado para uma instituição de acolhimento em Campinas, uma medida excepcional prevista pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Por todo o país - e até fora do Brasil - houve uma mobilização de ajuda ao garoto. Centenas de roupas e brinquedos foram doados.

 

"Um alívio de saber que ele tá bem. Que ele vai passar a ter uma vida decente, que toda criança merece.", diz o jardineiro.

 

O pai, a madrasta do menino e a filha dela, de 22 anos - que estava em casa vendo televisão quando a polícia chegou - foram presos preventivamente por tortura e omissão. O caso também é acompanhado pelo Ministério Público.

 

 

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