Bahia é o segundo estado com mais casos de violência contra povos e comunidades tradicionais em 2022, aponta pesquisa
19/06/2023 14:45 em Bahia

A Bahia foi o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais, em 2022, segundo informações do relatório "Além da Floresta: Crimes Socioambientais nas Periferias". A pesquisa da Rede de Observatórios de Segurança com apoio das secretarias de segurança pública estaduais foi divulgada nesta segunda-feira (19).

De acordo com a pesquisa, a Bahia, que ficou atrás apenas do Pará, registrou 428 vítimas de violência no intervalo de 2017 a 2022. Os crimes de ameaça representaram mais da metade (53,27%) das violações sofridas, seguidos das lesões corporais (22,66%) e das injúrias (12,15%).

As principais vítimas foram mulheres (58%). Os crimes socioambientais se concentram em locais específicos no estado. Apenas seis cidades registraram mais da metade dos eventos: Porto SeguroSalvadorBanzaêPau Brasil, Ilhéus e Itaju do Colônia representam 52,2% dos casos.

 

Quatro dessas cidades estão localizadas na região do sul da Bahia – sendo duas delas, Ilhéus e Porto Seguro, conhecidas pela atividade turística.

O município de Banzaê chama atenção por figurar no ranking de crimes contra povos tradicionais. Localizado no extremo norte do estado, quase na divisa com Sergipe, o município é marcado pela luta do povo Kiriri pela demarcação de seu território e, conforme o relatório, por conflitos com grileiros e fazendeiros locais.

Recentemente o município criou a primeira Secretaria dos Povos e Comunidades Tradicionais do estado da Bahia.

A SSP-BA considera como “povos tradicionais” os seguintes grupos: indígenas, andirobeiras, apanhadores de Sempre-Vivas, caatingueiros, catadores de Mangaba, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, caiçaras, ciganos, povos de terreiros, cipozeiros, castanheiras, faxinalenses, fundo e fecho de pasto, geraizeiros, ilhéus, isqueiros, morroquianos, pantaneiros, pescadores artesanais, piaçabeiros, pomeranos, quebradeiras do coco babaçu, retireiros, seringueiros, vazanteiros e veredeiros.

Crimes contra Povos Tradicionais - Estado da Bahia - 2017 a 2022

Tipos de crimes 2017-2021 2022 Total por tipo de crime Proporção
AMEAÇA 97 131 228 53,27%
LESÃO CORPORAL 46 51 97 22,66%
INJÚRIA 22 30 52 12,15%
ESTUPRO 9 11 20 4,67%
TENTATIVA DE HOMICÍDIO 11 2 13 3,04%
HOMICÍDIO DOLOSO 11 0 11 2,57%
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL 1 4 5 1,17%
FEMINICÍDIO 1 0 1 0,23%
TENTATIVA DE FEMINICÍDIO 0 1 1 0,23%
TOTAL POR ANO 198 230 428 100,00%
 

 

Mortes de indígenas

 

Ao menos seis indígenas foram mortos a tiros no sul e extremo sul da Bahia nos últimos oito meses — Foto: Arte g1

Ao menos seis indígenas foram mortos a tiros no sul e extremo sul da Bahia nos últimos oito meses — Foto: Arte g1

Ao menos cinco indígenas foram mortos a tiros no extremo sul do estado, entre março e agosto do ano passado. Todos os crimes foram ou estão sendo investigados pela Polícia Civil. Não é possível afirmar que existem relações entre os casos.

Veja abaixo os crimes registrados pelo g1 Bahia:

 

  • Vitor Braz de Souza, de 22 anos, Porto Seguro;
  • Iris Braz dos Santos, de 44 anos, em Porto Seguro;
  • Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, em Prado;
  • Wellington Barreto de Jesus, de 50 anos, em Santa Cruz Cabrália;

 

 

Morte de jovem liderança

 

Jovem pataxó é morto a tiros após reclamar de som alto durante festa particular no sul da Bahia — Foto: Redes sociais

Jovem pataxó é morto a tiros após reclamar de som alto durante festa particular no sul da Bahia — Foto: Redes sociais

 

O indígena da etnia Pataxó Vitor Braz de Souza, 22 anos, foi morto a tiros, no dia de 14 de março de 2022, na localidade de Ponta Grande, em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.

As investigações apontaram que Vitor, uma das jovens lideranças na região, foi morto após reclamar do som alto durante a realização de uma festa, que acontecia nas proximidades da praia da Ponta Grossa. De acordo com os pataxós, a área onde acontecia o evento é um território indígena ainda não homologado.

O jovem era atuante no movimento Indígena, e participava de diversas mobilizações. Segundo outras lideranças pataxós, o filho de Vitor nasceu há pouco mais de 30 dias. O jovem era neto do primeiro cacique da aldeia Novos Guerreiros, e neto da pajé Japira.

 

Morto após ser baleado

 

Indígena da etnia Pataxó é morto a tiros no sul da Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Indígena da etnia Pataxó é morto a tiros no sul da Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais

 

No dia 24 de abril do ano passado, o indígena da etnia Pataxó, Iris Braz dos Santos, de 44 anos, morreu após ser baleado, na Aldeia Novos Guerreiros, na cidade de Porto Seguro.

O caso aconteceu pouco mais de um mês depois da morte de Vitor Braz.

 

Menino de 14 anos

 

Indígena de 14 anos foi baleado na madrugada de domingo (4). — Foto: Redes sociais

Indígena de 14 anos foi baleado na madrugada de domingo (4). — Foto: Redes sociais

O crime aconteceu na madrugada de 4 de setembro do ano passado. Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, foi baleado em uma fazenda na cidade de Prado, no extremo sul da Bahia, em 4 de setembro do ano passado.

 

Na época, a Polícia Militar informou que equipes da 88ª Companhia Independente foram acionadas por moradores que informaram a presença de homens armados em dois veículos e que efetuavam disparos de arma de fogo na região de Corumbau.

O caso ganhou repercussão com uma foto na qual a vítima segurava uma cartaz com a frase: "os Pataxós pedem socorro".

Menos de um mês depois do crime, três policiais militares foram presos, suspeitos de envolvimento na morte de Gustavo. As prisões ocorreram durante a "Operação Tupã", da Polícia Federal (PF), que cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão nas cidades de Teixeira de Freitas, Itamaraju e Porto Seguro, no extremo sul do estado.

 

Taxista morto

 

Indígena Pataxó é morto a tiros no sul da Bahia — Foto: Arquivo Pessoal

Indígena Pataxó é morto a tiros no sul da Bahia — Foto: Arquivo Pessoal

 

Um indígena da etnia Pataxó foi morto a tiros na noite do dia 29 de setembro de 2022, em Santa Cruz Cabrália, no extremo sul da Bahia. Ele foi identificado como Wellington Barreto de Jesus, de 50 anos.

O indígena foi assassinado em Coroa Vermelha, maior aldeia urbana do país, enquanto trabalhava.

De acordo com a Polícia Civil, o caso ocorreu na Rua Geraldo Scaramussa, no bairro Campo Verde. A vítima estava no ponto de táxi onde trabalhava, quando foi alvejada por um homem em uma bicicleta, vestindo roupas pretas e capuz, segundo testemunhas.

A polícia informou que Wellington não tinha passagens pela polícia. Ele era uma liderança indígena de Coroa Vermelha e deixou esposa e dois filhos, um rapaz de 26 anos e uma menina de dois anos, segundo informações do cacique Zeca Pataxó, outro representante da etnia na região.

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