'Eles assumem lesão corporal, tortura jamais', diz advogado dos suspeitos de torturarem funcionários em Salvador
31/08/2022 17:24 em Bahia

O advogado de defesa do empresário Alexandre Carvalho e do gerente Diógenes Carvalho, suspeitos de torturarem dois funcionários em uma loja em Salvador, afirmou que os crimes cometidos não configuram tortura. Segundo Otto Lopes, em entrevista a TV Bahia, nesta quinta-feira (31), as vítimas estavam no local onde as agressões aconteceram por livre e espontânea vontade e poderiam ter deixado a sala quando quisessem.

Os crimes foram cometidos no dias 19 de agosto, após os patrões acusarem dois funcionários de um furto de R$ 30. A história só foi denunciada à polícia no dia 26, porque as vítimas dizem ter sido ameaçadas pelos homens para não prestar queixa, e ficaram com medo. Além das agressões, os investigados filmaram a situação e expuseram na internet.

Os suspeitos estão soltos, e foram ouvidos pela polícia nesta quinta-feira (31). O teor do depoimento não foi divulgado. O delegado responsável pelo caso afirmou que, no momento, não há elementos para prender os dois suspeitos. Além disso, os homens não foram presos em flagrante porque, no curso das investigações, eles não oferecem risco a sociedade, não estão ameaçando vitimas, têm residência fixa e estão colaborando com a polícia.

Nos vídeos divulgados, o funcionário Marcos Eduardo Serra aparece recebendo pauladas nas mãos. A outra vitima, William de Jesus, tem as mãos queimadas com ferro de passar roupa. Os agressores escreveram o número 171 na vítima, em referência ao crime de estelionato.

O dono da loja, Alexandre Carvalho, disse à polícia que agredir os funcionários foi uma forma de fazer justiça com as próprias mãos e dar uma espécie de "lição" para os outros empregados.

O advogado de defesa do empresário e do gerente, Otto Lopes, afirmou que os suspeitos confessam ter cometido o crime de lesão corporal.

 

 

"Eles assumem lesão corporal, tortura jamais. Em momento nenhum os funcionários foram mantidos em uma sala fechada, eles entraram e deixaram a sala por livre e espontânea vontade, temos até a filmagem nesse sentido. Em momento algum eles tiveram qualquer obstáculo para sair ou foram forçados a entrar", disse.

 

 

Ainda segundo o advogado, o vídeo das agressões veiculado nas redes sociais é apenas uma parte do que aconteceu na sala, que era utilizada como um ambiente de prestação de contas dos funcionários.

 

 

"Diante de um histórico de 10 roubos ou furtos, que também estamos apurando, acabou havendo uma discussão e uma desinteligência que culminou nas agressões. Ali [vídeo] é a parte final, em que eles não mostram a troca de ameaças, inclusive as ameaças de morte contra os patrões", contou.

 

Homens são agredidos por ex-patrões após acusação de roubo em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Homens são agredidos por ex-patrões após acusação de roubo em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Otto Lopes ainda disse que antes das agressões divulgadas nos vídeos, os funcionários levaram a situação com ironia, sarcasmo e brincadeira. Ainda de acordo com ele, os empregados teriam dito que já haviam roubado as próprias mães e que, por conta disso, o 'diabo tomava conta da vida deles e eles roubavam qualquer pessoa'.

Outro ponto abordado pelo advogado é a ausência de histórico criminal de Alexandre e de Diógenes.

"A gente precisa entender que o momento da conduta não fala sobre toda a historia de um homem. Alexandre tem 36 anos, nunca se envolveu com crimes, é pai de família, empresário. O outro tem 26 anos e nunca se envolveu com crimes", enfatizou.

O Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) também investiga a denúncia de tortura. O órgão informou que vai solicitar informações para Polícia Civil, e que as vítimas e os dois suspeitos serão convocados para prestar depoimento.

 

Tortura física e psicológica

O relato do jovem William de Jesus, de 21 anos, aponta como aconteceu a tortura. "Ele falou: 'eu só não vou queimar sua testa porque você já é feio. Com a testa queimada vai ficar mais feio ainda, então vou queimar na mão'".

As duas vítimas prestaram depoimento em delegacia.

Willian contou que no dia da agressão chegou para trabalhar, e foi pego em uma “emboscada” montada pelos dois. Durante a sessão de tortura, os patrões queriam que ele confessasse o suposto roubo.

 

 

"No momento em que estava me batendo, eles estavam gravando e dizendo para que eu confessasse. Eu falei: 'não vou confessar nada, porque eu não roubei nada'".

 

 

Marcos Eduardo, que também foi agredido com pauladas nas mãos, contou que está traumatizado e que sofreu ameaças de morte.

 

 

"É traumatizante. Eu não durmo direito, me assusto de madrugada porque ele me ameaçou de morte. Falou que, se não tivesse gostado [da tortura], era para dar queixa".

 

 

"Eu não preciso disso [roubar]. Eu tenho um filho, pago aluguel, trabalho. Acordava às 5h da manhã todos os dias, para trabalhar para ele. Saia quase 20h da noite. Fechava a guia e ainda ficava. Se eu fosse roubar, eu não ia roubar só R$30".

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